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História Natural

Catálogo de Gêneros

Escrito por Super User | Publicado: Quinta, 01 de Fevereiro de 2018, 11h15 | Última atualização em Quinta, 06 de Mai de 2021, 18h17

Catálogo de gêneros naturais do Brasil, e de outras colônias portuguesas, ainda não comercializados pelo reino. Relaciona  gêneros existentes nos três chamados reinos da natureza, indicando plantas medicinais e óleos. O documento avalia a importância destes produtos para o comércio exportador. 



Conjunto documental: Secretaria do Estado do Ministério do Reino
Notação: Caixa 731, pct. 02
Datas-limite: 1755-1863
Título do fundo ou coleção: Negócios de Portugal
Código do fundo: 59
Argumento de pesquisa: História natural
Data do documento:  s.d.
Local: s.l.
Folhas: documento 27 

Leia esse documento na íntegra

 

Catálogo de gêneros do Brasil e demais colônias portuguesas que ainda não estão no ordinário comércio.

Os marcados * são os que não precisam maior que ou nenhuma preparação exterior.

 Reino Animal

+ Cochonila[1] – Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais. Climatizada neste real Jardim Botânico[2] defendendo o inseto da chuva e se poderia climatizar no reino de Algarve[3].

Sendo vice-rei do Rio de Janeiro o marquês do Lavradio[4] se descobriu melhor este tão útil inseto, e naquele tempo, e no do senhor Luis de Vasconcellos se introduziram algumas arrobas no comércio.

 Reino Vegetal (...)

Para tinturaria (...)

Na coleção de mil amostras de madeiras a maior parte do Brasil, que se conserva neste real museu, além de construção, existem muitas para tinturaria, sem computar o pau-brasil[5] e brazilete[6].

* Casca de arariba que tinge em encarnado

* Gabão - pau que dá tinta encarnada fixa diferente da da Ilha de São Tomé.

* Curujuru – fecula encarnada, ou anil encarnado. Observou no Rio Branco o desembargador Francisco de Sampaio, que os índios o extraem das folhas de uma árvore por meio da fermentação. Pará[7], Rio da Madeira, Branco.

Aromas

* Pimenta[8]- Pará

* Gengibre[9] – Brasil

Óleos, Balsamos, Resinas, Gomas

* Óleo extraído das sementes de algodão[10]

* Óleo extraído das sementes de mamona[11]

* Óleo extraído das sementes do fruto de Dendê[12]

* Goma de caju serve de grude e defende da traça e outros insetos os papéis encadernados com esta

goma e serve para fábricas de xitas.

Reino Mineral

* Argila[13] porcelana – Rio de Janeiro

* Pedra para panelas, e outros utensílios trabalhados ao torno – Minas Gerais

* Salitre, Nitro Nativo em várias partes do Brasil

Aproveitando-se pois do ouro[14], que em abundância há nas terras vedadas diamantinas, e em muitas outras partes do Brasil, que ainda não foram mineradas, nem procuradas as suas betas, ou veios, nem também aqueles dos diamantes no serro do frio, e aproveitando-se da Platina de Minas Gerais[15], Goyases[16], Jacobina[17] e extraindo as ricas minas de ferro, e aquele piriticoso que contém ouro nas Minas Gerais, de cobre, donde se acha a preciosa malaquite18 (que se recolhe em abundância no Reino de Angola[18] de chumbo, bismuto, riquíssima minas de cobalto das Minas Gerais, antimonio, mercúrio. Imensas riquezas somente o Brasil subministrará.

Entre os indicados gêneros huns: (...)

3º As minas de metais precisam de Metalúrgicos alemães práticos para a escavação, fundição e purificação. (...)

2º Para estes gêneros que não necessitam alguma preparação se deveria instruir os colonos, com a obra que publicou dr. José Mariano Velloso[19] chamada fazendeiro do Brasil, da qual saíram cinco tomos, e outras memórias, ou folhetos instrutivos para os lavradores."

 

[1] COCHONILHA: nome dado aos insetos da família Coccidae, da fêmea é extraído um corante natural, de cor vermelho intenso, utilizada ainda hoje e que foi objeto de muito interesse dos naturalistas e administradores luso-brasileiros. A cochonilha vive em certos gêneros de cactos, chamados de nopal pelos nativos habitantes da região do atual México e o ácido carmínico extraído deste inseto já era usado pelos Astecas e povos da América central, milhares de anos antes da invasão espanhola, para colorir tecidos e outros artesanatos, bem como para cerimônias religiosas. Durante o período de colonização hispânica, a cochonilha foi o segundo produto em valor exportado pelo Vice-Reino da Nova Espanha, superado apenas pela prata. O corante era consumido em larga escala na Europa e seu valor bastante elevado. Em 1780, Frei José Mariano da Conceição Veloso, um dos tomos de O Fazendeiro do Brazil, publicou a tradução do livro Traité de la culture dunopal et de l’éducation de la cochenille, de N. J. Thiéry de Menonville, que tratava da preparação da tão cobiçada tinta vermelha. Frei Veloso propunha, em sua publicação, o desenvolvimento da cultura da cochonilha no Brasil. Destacam-se também, os esforços de d. Rodrigo de Souza Coutinho para enviar Hipólito José da Costa à América do Norte, com instruções de passar pelo México e buscar “conseguir o inseto e a planta da cochonilha e conhecer o método de seu tratamento e preparo e transportá-los para Portugal, procurando iludir a vigilância alfandegária rigorosa dos espanhóis, que proibiam aquela exportação”.

[2] JARDIM BOTÂNICO DO PARÁ: criado por carta régia de d. Maria I, em 4 de novembro de 1796, o Jardim Botânico de Belém do Pará foi instalado em terras doadas à fazenda real por Hilário de Souza, junto ao terreno do extinto convento de São José, numa área de 50 braças em quadro, alguns anos mais tarde expandida. Além dos objetivos determinados no documento de criação para estabelecimento de viveiros e educação de plantas, d. Francisco de Souza Coutinho, governador do Grão-Pará (1790-1803), considerou introduzir também o cultivo de plantas indígenas e de mudas de espécies de “árvores de construção”. A concepção do complexo do Jardim Botânico do Pará, incluindo o Jardim das Caneleiras e o assentamento de colonos em torno do jardim, teve inspiração no jardim La Gabrielle (1778), situado em Caiena, na Guiana Francesa, de onde várias espécies foram transplantadas para aclimatação, a exemplo de pés de abricó, frutas pão, abacateiro, cravos da Índia, jacas, jasmins e maracujás. Além das mudas provenientes da colônia francesa, cujo primeiro envio data do final de 1809, atuaram na fundação e primeiros anos do Jardim do Pará Michel du Grenouillier e Jacques Sahut, que vieram de Caiena. Contudo, a consolidação do jardim paraense se deu com a atuação de Marcelino José Cordeiro, que havia sido um dos auxiliares do governador do Rio Negro, Manuel da Gama Lobo d’Almada e administrador da Serraria Real do rio Acará. A importância do Jardim Botânico do Pará pode ser medida pela influência que exerceu na criação de hortos pelo Brasil, principalmente com a vinda da família real. Esse jardim recebeu, entre 1817 e 1820, a visita dos naturalistas Spix e Martius. Entre 1818 e 1821 o jardim botânico foi dirigido pelo médico e naturalista Antônio Corrêa de Lacerda que realizou experimentos agrícolas, renovou a plantação de caneleiras e a produção de canela e iniciou a catalogação e a classificação botânica das espécies cultivadas que deu origem à Flora Paraensis. A partir da década de 1820, teve início um período de degradação do complexo do jardim botânico, acentuado com as batalhas da Cabanagem. De acordo com o pesquisador Nelson Sanjad, esse período “demarca não só a falência do complexo comercial-científico de Belém, como também o fim de uma política de investimentos na cidade que vinha se mantendo desde meados do século XVIII (...)” (Nos Jardins de São José: uma história do Jardim Botânico do Grão Pará, 1796-1873. Dissertação, Unicamp, 2001. p. 153). Em relatório do ano de 1879, o presidente da Província do Pará, José Coelho da Gama e Abreu admite o fim do Jardim Botânico de Belém do Pará face ao seu estado de destruição.

[3] ALGARVE: província situada ao sul de Portugal. Com o fim do Império Romano, foi invadida por diversos povos bárbaros, como vândalos e suevos, mas primordialmente pelos visigodos. Estes disputaram a região com o Império Bizantino ao longo do século VI, mas foi a partir do VIII que a região esteve sob domínio mouro até 1249, quando foram expulsos por d. Afonso III (1210-1279), dando início ao processo de formação do Estado português. O Tratado de Badajoz, de 1267, estabeleceu definitivamente o pertencimento do Algarve a Portugal, apesar das pretensões do reino de Castela. Entre os séculos XV e XVI, constituiu uma das seis comarcas que dividiam Portugal, até que, após o censo efetuado entre 1527 e 1532, se desse início à criação de novas comarcas por meio da subdivisão das antigas, denominadas a partir de então províncias ou regiões. O Algarve faz parte da história dos Descobrimentos, tendo do porto de Lagos partido as primeiras expedições portuguesas em direção ao Marrocos e à costa oeste africana. Outro elo com a história da expansão marítima europeia estaria no papel desempenhado pela região de Sagres, embora a historiografia contemporânea tenha desfeito o mito da Escola de Sagres, uma aula de navegação criada pelo infante d. Henrique (1394-1460). No final do século XVI, durante a União Ibérica, a região foi atacada por corsários e piratas ingleses, que chegaram a saquear e afundar naus da Carreira da Índia portuguesa. Também nesta época surgiram as ameaças de uma invasão britânica, em decorrência do ataque e da tomada de Cádiz, que obrigaram o Reino a proteger suas fronteiras marítimas, fazendo surgir na região do Algarve fortes e outras construções voltadas para defesa dos portos e cidades, destacando-se Vila Nova de Portimão, Lagos e Tavira. Apesar de referido como Reino Unido a Portugal, essa divisão oficialmente nunca chegou a existir. Provavelmente resultou do fato de a província ter tido uma identidade própria, diferente do restante de Portugal, desde a época da Reconquista devido à variedade de povos que habitaram a região em diferentes momentos.

[4] MASCARENHAS, D. LUÍS DE ALMEIDA PORTUGAL SOARES ALARCÃO D' EÇA E MELO SILVA E (1729-1790) - MARQUÊS DO LAVRADIO: 5º conde de Avintes e 2º marquês do Lavradio era filho do 1.º marquês do mesmo título d. Antônio de Almeida Soares e Portugal e de d. Francisca das Chagas Mascarenhas. Governador da Bahia entre 1768 e 1769, conseguiu neste curto período apaziguar os conflitos entre as autoridades locais e restabelecer a ordem na guarnição de Salvador. Sua forma de governar se pautava pela prudência na utilização dos recursos procurando manter suas contas sob estrito controle. Foi nomeado décimo primeiro vice-rei do Brasil em 1769, e seu governo durou 10 anos. Durante este período, a cidade colonial do Rio de Janeiro, que abrigava a sede do vice-reinado, passou por uma série de melhorias, como o aterro de pântanos e lagoas que prejudicavam a qualidade do ar, calçamento e abertura de ruas na parte central (inclusive a que leva seu nome), além de incentivos à produção local de alguns itens como o café e o vinho. Também foi responsável pela fundação da Academia Científica, em 1772, obedecendo à política pombalina de fomento às atividades científicas, que incluiu a remessa de coleções de História Natural e a criação de um horto botânico na cidade. No entanto, ao longo de seu governo, medidas impopulares, implementadas por ordem direta da metrópole, foram adotadas, como: o cumprimento das leis do Livro da Capa Verde do Distrito Diamantino – regulamentação da exploração de diamantes na colônia, editado por iniciativa do marquês de Pombal – e a extinção da Companhia de Jesus. Foi também durante sua administração que a situação de crescente instabilidade na região do Rio da Prata, com ocasionais conflitos armados entre forças espanholas e lusas, demandou providências para contornar a situação, como iniciativas de povoamento da região sul do Brasil e a construção de fortalezas na região, com o envio de guarnições. Em 1779, dois anos depois do falecimento do rei d. José I, o marquês do Lavradio deixou o governo do Brasil, sendo substituído por Luís de Vasconcelos e Sousa. De volta a Portugal, tornou-se conselheiro da Guerra, presidente do Desembargo do Paço, inspetor-geral das tropas do Alentejo e Algarve, veador da rainha e recebeu a Grã Cruz da Ordem de Cristo. A correspondência trocada por ele com outras autoridades e membros da nobreza em Portugal gerou as Cartas da Bahia (1768 a 1769), e as Cartas do Rio de Janeiro (1769-1770) publicadas pelo Arquivo Nacional. A instituição conserva ainda o fundo privado Marquês do Lavradio em seu acervo.

[5]PAU-BRASIL (CAESALPINIA ECHINATA): madeira de excelentes propriedades como corante e matéria-prima para fabricação de instrumento musicais, estendia-se no litoral brasileiro, desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Norte. Referido por cronistas como pau de tinta, a exemplo de Gabriel Soares de Souza, o pau-brasil recebeu diferentes denominações. Ibirapitanga, pelos povos tupi, arabuton por Jean de Lery ou verzino por Américo Vespucio, essa espécie foi descrita pela primeira vez em 1648 por Piso e Marcgrav – Historia Naturalis Brasilae. seguida pelas descrições elaboradas por Lamarck (1789) e por Martius (1876). Recentemente, a denominação Caesalpinia echinata de Lamarck foi modificada para Paubrasilia echinata (https://revistapesquisa.fapesp.br/pau-brasil-vira-genero-de-arvore/). Objeto de exploração exclusiva da Coroa portuguesa [estanco], a importância do pau-brasil foi tão expressiva e lucrativa, durante os séculos XVI e XVII, que era corrente o uso da expressão “fazer Brasil” para designar o complexo de operação para a extração da madeira: derrubada, corte, transporte até os portos. Assim, era incumbência da Coroa portuguesa disciplinar a exploração desordenada da madeira e evitar o descaminho uma vez que a saída da madeira, sem controle, causava danos à Fazenda Real e ao comércio. A exploração sem critérios, o corte aleatório da madeira e o comércio ilícito, realizados tanto por corsários quanto pelos súditos da metrópole, deixaram rastros de destruição das florestas, o que levava a uma interiorização dessa exploração na busca das árvores mais afastadas do litoral. Os instrumentos jurídicos que respaldavam a ocupação da terra pelos portugueses – Carta de Doação da capitania de Pernambuco e Foral (1534) e depois, os Regimentos dos governadores-gerais Tomé de Souza (1548), Francisco Giraldes (1588) e Gaspar de Souza (1612) faziam menção à exploração da madeira, mas não expunham uma preocupação efetiva em sistematizar a exploração. De acordo com Maria Isabel de Siqueira, a Coroa luso-espanhola, por intermédio de Filipe III (1598-1621), preocupada com os interesses da Fazenda Real e com os prejuízos decorrentes não só do descaminho do pau-brasil, mas também da má utilização do solo, acarretando baixa nos lucros do reino, elaborou uma legislação específica para o trato da madeira: o Regimento do Pau-brasil de 1605. Tratava-se de um conjunto de ações normativas e coercitivas para viabilizar a exploração colonial, que autorizavam a extração da madeira com a licença por escrito do Provedor-mor da Fazenda de cada uma das capitanias (artigo 1), concedia a licença para explorar a madeira somente às pessoas de qualidade (artigo 2) e exigia o registro das licenças com a declaração da quantidade de árvores a ser cortada (artigo 3). (Considerações sobre a ordem em colônias: as legislações na exploração do pau-brasil. Clio – Revista de Pesquisa Histórica, v. 29, n. 1, 2011. Disponível em https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaclio/article/view/24300)

[6] BRAZILETE: espécie de pau-brasil de que se pode extrair corante vermelho, mas de cor pálida e de textura fina.

[7] PARÁ, CAPITANIA DO: a etimologia do nome da antiga unidade administrativa decorre do rio Pará, derivado do tupi-guarani pa'ra que significa rio do tamanho do mar ou grande rio devido sua grande extensão. No ano de 1621, a colônia americana portuguesa foi dividida em dois territórios administrativamente separados que respondiam ambos diretamente a Lisboa: o Estado do Brasil, com sede em Salvador, e o Estado do Maranhão, com centro administrativo em São Luís. O Estado do Maranhão e Grão-Pará permaneceu com essa designação até o ano de 1751, quando no reinado de d. José I e do gabinete de Sebastião José de Carvalho e Melo, transfere a capital administrativa de São Luiz para Belém (fundada em 1616) e passa a se chamar Estado do Grão-Pará e Maranhão. O Estado do Grão-Pará e Maranhão era composto pelas capitanias do Pará, Maranhão, Piauí e Rio Negro, mantida essa estrutura até o ano de 1772/1774, quando o governo português resolve dividir o Estado do Grão-Pará e Maranhão em duas unidades administrativas distintas: o Estado do Grão-Pará e Rio Negro (1772/1774 -1850), ficando a capitania do Rio Negro Subordinada ao Pará, e o Estado do Maranhão e Piauí (1772/1774-1811), ficado a capitania do Piauí subordinada ao Maranhão. Ambas, as unidades administrativas criadas ficaram subordinadas diretamente a Lisboa (SANTOS, Fabiano Vilaça dos. O governo das conquistas do norte: trajetórias administrativas no Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751-1780). Tese de doutorado em História. USP, 2008). As conquistas do norte eram inicialmente subordinadas ao Estado do Maranhão, que não conseguia defender toda a vasta região amazônica, além de expandir as fronteiras para o oeste. Para tentar efetivar a apropriação do território e conter o alcance da influência dos religiosos nas missões e aldeamentos, a Coroa criou e distribuiu sistematicamente, entre 1615 e 1645, capitanias e sesmarias ao longo do rio Amazonas. As capitanias que compunham o Estado do Maranhão no século XVII eram Pará, Maranhão e Piauí – reais – e Cumá, Caeté, Cametá e Marajó (ou Ilha Grande de Joanes), estas particulares e subordinadas às da Coroa. O regime das capitanias permaneceu em vigor desde 1615 até 1759, quando o marquês de Pombal, primeiro-ministro de d. José I, reformulou o sistema, incorporando todas à Coroa e dando uma nova configuração ao Estado do Grão-Pará e Maranhão. O Grão-Pará representou grande possibilidade de riqueza para colonos e colonizadores, interessados nas drogas do sertão e nas terras indígenas. O setecentos, sobretudo na segunda metade, foi um período profícuo para a região, devido à intensificação do comércio das drogas e ao incentivo às culturas agrícolas, como o cacau, tabaco, café, algodão, entre outros, promovidos pela Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão e resultante da expulsão dos jesuítas, que controlavam o comércio com os índios.

[8] PIMENTA: nome comum dado aos frutos ou condimentos extraídos de uma gama de plantas que tem sabor geralmente picante. Na Europa medieval, a pimenta, usada como condimento – para realçar o sabor e conservar os alimentos – e para fins medicinais, era um produto raro e caro, vindo do Oriente, e seu comércio era monopolizado por árabes e venezianos. Considerada uma especiaria, a pimenta-do-reino é uma espécie proveniente da Índia e a grande demanda pelo gênero foi fator impulsionador das grandes navegações do século XV. Após a descoberta de uma rota atlântica para o Oriente, em 1498, e a posterior conquista de Calicute, os portugueses alcançaram o controle desse comércio. Quando da chegada dos europeus na América, os índios do continente já cultivavam e empregavam as várias espécies nativas em sua alimentação, que logo seriam levadas para a Europa, ativando o negócio das trocas na primeira metade do século XVI, centrado nas especiarias.

[9] GENGIBRE: Zingiber officinalle, planta herbácea originária da ilha de Java, da Índia e da China, de onde foi distribuída pelas regiões tropicais do mundo. O gengibre foi um condimento bastante valorizado na Época Moderna, dadas as suas propriedades picantes. Foi amplamente utilizado pelos indianos e orientais e, posteriormente, na culinária inglesa, atribuindo-se a ele também propriedades medicinais anti-inflamatórias, hipoglicêmica, antibacteriana entre outras. No Brasil, o gengibre chegou logo após o descobrimento e se adaptou ao solo e clima locais, tanto que naturalistas europeus chegaram a considerá-lo uma planta nativa, pois era comum encontrá-la em estado silvestre.

[10] ALGODÃO: diversas espécies nativas de algodão podiam ser encontradas no Brasil desde os primeiros anos de colonização. A chegada das primeiras técnicas de fiação e tecelagem com a fibra algodoeira, no entanto, datam do século XVII, quando as roupas de algodão passaram a ser utilizadas para a vestimenta dos escravos nos meses mais quentes. A partir da segunda metade do século XVIII, a crescente demanda pelo consumo de algodão pelo Império britânico forçou a expansão do cultivo e a fabricação de fios no Brasil. Esse processo provocou uma segunda onda de interiorização da produção mercantil para exportação, isso porque o plantio do algodão é mais propício em clima seco, com chuvas regulares, ou seja, em áreas afastadas do litoral. Foi no Maranhão, através dos incentivos criados pela Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que a produção algodoeira obteve crescimento mais intenso e longevo, perdurando até meados do século XIX. No Estado do Grão-Pará e Maranhão, serviu ainda ao pagamento dos funcionários régios e às transações comerciais (na forma de novelos ou de peças de pano) até 1749, quando foi introduzida a moeda metálica naquela região. No Oitocentos, apesar da onda de produção crescente, o baixo preço e a qualidade superior do algodão norte-americano terminaram por suplantar o produto brasileiro nos mercados internacionais.

[11] MAMONA: gênero de planta da família das euforbiáceas, com o qual se fabrica um óleo purgativo, vulgarmente conhecido como óleo de rícino. Originária da África, a mamona foi trazida pelos portugueses com a finalidade de usar seu óleo para iluminação e lubrificação dos eixos das carroças e mancais dos engenhos de cana-de-açúcar. O clima tropical facilitou o seu alastramento, podendo, atualmente, ser encontrada em quase toda extensão territorial, como se fosse uma planta nativa.

[12] DENDÊ: fruto extraído do dendezeiro (Elaeis guineenses), palmeira originária da parte ocidental e central da África, também conhecida como palma-de-guiné, que pode atingir até 15 metros de altura. Dendê é oriundo do termo quimbundo ndénde, que significa palmeira. Sua introdução no continente americano data do século XVI, coincidindo com o início do tráfico de escravos africanos para o Brasil. Esse fruto, de cor alaranjada e que cresce em cachos dá origem ao azeite de dendê (azeite de palma), foi amplamente comercializado para fins culinários e religiosos. O alvará régio de 10 de setembro de 1813 isenta de pagamento de taxas alfandegárias o sabão e o azeite de palma vindos do arquipélago de São Tomé e Príncipe “para que dali possam livremente ser exportadas para qualquer parte que fôr, e quando importadas em alguma parte dos meus Estados, não tendo de satisfazer ônus ou encargo algum á sua entrada”. Além do óleo, extraído do fruto, as fibras são utilizadas para abastecimento de fornos e fogões e para o artesanato. Sua madeira é empregada na construção de casas e suas folhas em substituição às telhas, em locais mais rústicos. O dendezeiro está ligado ao culto de Ogum, sendo a árvore totêmica deste orixá. Seu emprego na indústria alimentícia é importante, principalmente na fabricação de pães, bolos, tortas, biscoitos, cremes etc. O maior uso de óleo de dendê é como matéria-prima na fabricação de sabões, sabonete, sabão em pó, detergentes e amaciantes de roupa, podendo, ainda, ser utilizado como combustível em motores a diesel. O Brasil dispõe atualmente de vastas áreas de dendezeiros, com destaque para os estados do Pará, Bahia e Amapá, principais produtores de dendê no país.

[13] ARGILA: substância formada, principalmente, de sílica, alumina e água, fácil de modelar. Foi muito empregada na feitura de potes e outros utensílios doméstico, como também na construção de casas, a partir de tijolos e telhas desse material.

[14] OURO: por ser um mineral ao mesmo tempo maleável e de incrível resistência às alterações químicas causadas por outros elementos, há milênios é utilizado na fabricação de ornamentos e na cunhagem de moedas. É frequente que seja trabalhado sob forma de liga com outros metais, que lhe dão mais rigidez. É encontrado geralmente em rios, em forma de pepitas ou incrustado em outros depósitos minerais. Durante muito tempo um dos atributos do ouro foi o lastro de moedas correntes ou, de modo geral, seu uso como padrão de valor. O ouro no Brasil foi descoberto na região que corresponde atualmente a Minas Gerais, em fins do século XVII, por bandeirantes [bandeiras] de São Paulo, após décadas de buscas infrutíferas por diversas expedições. Responsável pela prosperidade da região, embora tenha que se considerar o papel desempenhado pelas atividades de pecuária e agricultura na capitania de Minas Gerais, teve um lugar preponderante na economia da metrópole e de sua maior credora, a Inglaterra. As cargas de ouro, segundo alguns historiadores, são um importante vetor de avaliação da economia portuguesa e das políticas adotadas, como de incentivo às manufaturas nacionais em momentos de crise, por exemplo. Durante o período em que sua extração se manteve no auge, a corrida ao ouro originou tal afluxo de imigrantes (do Reino e de outras partes da colônia), que uma lei foi decretada para tentar conter a evasão da população de Portugal. Atraindo indivíduos de todos os tipos e “cabedais”, a atividade mineradora desencadeou o desenvolvimento de uma sociedade diferente da predominante nas regiões de plantio extensivo: mais urbana e, a princípio, com maior diversidade social. Com um crescimento da produção entre 1730 e 1759, verificam-se nesse processo diferenças importantes entre as regiões: Minas Gerais inicia seu declínio na década de quarenta, quando Goiás e Mato Grosso adquirem visibilidade (COSTA, Leonor Freire et al. O ouro do Brasil: transporte e fiscalidade (1720-1764). Anais do V Congresso Brasileiro de História Econômica e 6ª Conferência Internacional de História de Empresas, 2003. https://ideas.repec.org/p/abp/he2003/083.html). Em consequência, cidades da região que haviam florescido no período, em especial Vila Rica (Ouro Preto), conheceriam a decadência no final do Setecentos. O ouro, principal meio de troca e a principal reserva de valor da capitania, deixou de circular livremente como moeda em 1807 e, como assinala Ângelo Carrara, um alvará de 1.° de setembro de 1808 proibiu sua circulação, com posterior regulamentação em 12 de outubro do mesmo ano que obrigou a confecção de bilhetes impressos para o troco do ouro em pó nas casas de permuta (A capitania de Minas Gerais (1674-1835): modelo de interpretação de uma sociedade agrária. História Econômica & História de Empresas. v.3 n. 2 (2000). http://www.abphe.org.br/revista/index.php/rabphe/article/view/138)

[15] MINAS GERAIS, CAPITANIA DE: nascida a partir do desmembramento da capitania de São Paulo e Minas do Ouro, ocorrido em 1720, Minas Gerais foi o foco da exploração de ouro e pedras preciosas – inclusive diamantes – ao longo do século XVIII. O início da exploração do ouro em fins do século XVII faria com que a metrópole implementasse reformas administrativas e legislativas com o intuito de estabelecer um maior controle sobre o território e sobre a exploração das suas riquezas, processo acentuado com a descoberta de diamantes na década de 1720. Em 1709, a crise causada pelo confronto entre os primeiros exploradores da região das minas e os “aventureiros” que chegaram posteriormente resultou no conflito conhecido por Guerra dos Emboabas e foi uma das causas para a criação da capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Em 1720, a revolta de Felipe dos Santos (ou de Vila Rica), que questionava a forma de tributação sobre o ouro e a intensificação do controle da coroa sobre as atividades locais sob a forma da criação das casas de fundição oficiais contribuiu para novo desmembramento, e a criação da capitania de Minas Gerais. O levante de 1720 não seria o último a opor a coroa aos colonos em torno da exploração e taxação das riquezas da região; em 1789 – no período de decadência da exploração colonial do ouro, diametralmente oposto ao do movimento de Felipe dos Santos – ocorreu a Conjuração Mineira, já sob a influência das ideias liberais e da revolução americana. Tornada polo dinamizador da economia colonial, a capitania das Minas (agora, Gerais, e não apenas do ouro) desenvolve, na sua rede de povoados, vilas e cidades uma sociedade mais urbana e dinâmica do que a que caracterizava a economia agrícola, cuja exclusividade marcou os primeiros dois séculos da colonização. À medida que ouro e diamantes jorravam, as cidades se desenvolviam e sofisticavam, a sociedade se diversificava, assim como as atividades econômicas, a despeito da repressão da metrópole que não via com bons olhos a produção local de bens necessários ao dia a dia dos colonos e à própria atividade mineradora. Neste painel variado, a massa de escravos e o pequeno grupo de senhores – molas mestras da produção de riquezas –  dividiam espaço com artistas, intelectuais, comerciantes de víveres, e um sem número de “sem destinos”, indivíduos que vagavam à margem da sociedade e da riqueza da qual se apossavam poucos privilegiados. De forma não muito diferente do que ocorre nos dias de hoje, em regiões em que uma fonte potencial de riqueza é subitamente descoberta e explorada, os lucros e benefícios da nova atividade tendem a se concentrar de forma intensa, deixando à margem uma quase horda de excluídos, muitos deles vivendo a vã esperança de partilhar as sobras possíveis. Não é à toa que a paisagem arquitetônica desenvolvida ao longo do século XVIII impressiona até os dias de hoje, e lançou para a história nomes como Manuel Francisco Lisboa, que planejou a igreja do Carmo, em Ouro Preto (antiga Vila Rica). Artistas locais, como Aleijadinho e Mestre Ataíde, desenvolveram uma versão nativa de barroco/ rococó e beneficiavam-se do grande afluxo de riquezas. Patrocinadas pelas irmandades e ordens terceiras – organizações religiosas de indivíduos sem vínculo com a Igreja, mas que se dedicam a um culto específico –, que tiveram um papel crucial na vida social da região das minas, as opulentas igrejas se multiplicaram, exibindo o esplendor de uma era que chegaria ao fim com o século XVIII. Após a década de 1760 percebe-se que a comarca do Rio das Mortes passou a apresentar um crescimento demográfico substancial, em oposição à comarca de Vila Rica, que começava a perder população. Isso se deveu ao declínio da produção de ouro – estreitamente relacionada à Vila Rica – e a diversificação e florescimento da agricultura, da pecuária e até mesmo, em certa medida, da nascente produção manufatureira em Rio das Mortes. Esta transformação marca o início da queda da produção de ouro na região e indica a diversificação de atividades para além da mineração.

[16] GOIÁS, CAPITANIA DE: região localizada no centro-oeste brasileiro, já era conhecida pelos portugueses desde o século XVI. No entanto, seu processo de colonização iniciou-se apenas no final do século XVII, a partir das descobertas de minas de ouro por bandeirantes paulistas – com destaque para Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, considerado o descobridor de Goiás. Entre 1590 e 1670, diversas bandeiras percorreram a região, vindas de São Paulo e, a partir de 1653, outras partiram de Belém pelo Amazonas e alcançaram a região dos rios Tocantins e Araguaia. Além de bandeirantes em busca de ouro e escravos, também jesuítas chegaram para catequizar, principalmente, os povos indígenas. Assim, em 1727 é fundado o arraial de Santana, que viria a se transformar na vila Boa de Goiás, próximo da fronteira com o atual estado do Mato Grosso. A exploração do cobiçado mineral na região ampliou as fronteiras ocupadas da América portuguesa, inicialmente com a chegada dos colonos de São Vicente, tradicionalmente berço de desbravadores e caçadores de riquezas, aos quais logo se seguiram reinóis e aventureiros de diversas capitanias. Índios chamados Goyazes habitavam a Serra Dourada e deram origem ao nome da capitania. Aparentemente, haviam migrado da região amazônica em tempos não muito remotos e juntaram-se a outros grupos em resistência às seguidas tentativas de extermínio e escravização pelos brancos que chegavam atrás do ouro. As “minas dos Goyazes” estiveram inicialmente subjugadas à jurisdição da capitania de São Paulo. No entanto, sua criação data de 9 de maio de 1748, quando a capitania de São Paulo foi desmembrada dando origem a três capitanias distintas: São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Foi o segundo maior produtor de ouro durante o período colonial, depois de Minas Gerais. Mas observa-se também a existência de uma economia de subsistência para alimentar os mineiros e escravos que trabalhavam nas minas. Com o declínio da mineração, em fins do século XVIII, os goianos passariam a se dedicar a atividades agropastoris, exportando gado e seus subprodutos, além de algodão e açúcar, para as capitanias vizinhas do Norte e Nordeste.

[17] JACOBINA: localizadas no nordeste baiano, no chamado Polígono das Secas, as terras que vieram a formar o território de Jacobina foram doadas em sistema de sesmarias àqueles próximos aos administradores coloniais em Salvador, a exemplo dos donatários do Morgado dos Garcia D’Ávila (Casa da Torre) e Guedes de Brito (Casa da Ponte). A região foi intensamente explorada em função das minas de ouro, prata, pedras preciosas e salitre descobertas por bandeirantes paulistas e portugueses no século XVII, como Belchior Dias Moréya – o “Muribeca”, neto de Caramuru. Também de grande importância econômica foi a atividade da pecuária e, em paralelo, a cultura de subsistência, na medida em que crescentes levas de garimpeiros se dirigiam para a região. O distrito de Jacobina foi criado em 1677 e sua elevação à vila com o nome de Santo Antonio de Jacobina, em 1722. A vila, com uma extensão de 300 léguas, teve como sede, inicialmente, um aldeamento de índios de padres franciscanos, missão Nossa Senhora das Neves do Sahy. Dois anos depois, um outro aldeamento, missão Bom Jesus da Glória, passou a ser a sede da vila. Para controle da exploração aurífera crescente, a Coroa, por meio de provisão do Conselho Ultramarino de 13 de maio de 1726, determinou a criação de uma casa de fundição que resultou, em apenas dois anos, a arrecadação de cerca de 3.841 libras de ouro.

[18] ANGOLA: Localiza-se na região sudoeste da África. Como colônia portuguesa tem seu início em 1575, a partir do contrato de conquista e de colonização recebido da Coroa pelo explorador Paulo Dias de Novaes, face ao sucesso obtido na corte do Ndongo, conforme J. Vansina no capítulo “O reino do Congo e seus vizinhos” (História Geral da África, vol. V, Unesco, 2010). A colônia viria a se chamar Angola, nome atribuído pelos portugueses, inspirado no título ngola dado ao rei do Ndongo, região constituída mais pela submissão de grupos a uma autoridade maior, por alianças ou guerra, do que por uma delimitação territorial como explica Marina de Mello e Souza (Além do visível: poder, catolicismo e comércio no Congo e em Angola. São Paulo: Edusp, 2018). No ano seguinte é criada a vila de São Paulo de Luanda, da qual Dias de Novaes foi o primeiro governador e capitão geral, conforme o modelo implantado no Brasil, instalando-se com famílias de colonos e soldados portugueses. As pressões metropolitanas para se impor na região e as suspeitas surgidas entre os líderes locais de que os portugueses vinham para ficar levaram à eclosão de uma guerra iniciada em 1579 que durou até 1671. Entre 1641 e 1648, Angola esteve sob domínio holandês, em um movimento que não pode ser dissociado da ocupação da região nordeste da América portuguesa. Se desde o início de sua presença, os portugueses dedicaram-se ao comércio de escravos, primeiro para São Tomé e depois para o Brasil, esse negócio tornar-se-ia a principal atividade econômica da região, fazendo de Angola a grande exportadora de mão de obra compulsória para a América. Segundo a base de dados americana Atlantic Slave Trade, calcula-se que tenham saído de Angola, entre 1501 e 1866, quase 5,7 milhões de escravos. Criaram-se relações bilaterais entre Brasil e Angola, onde o primeiro produzia matérias-primas e alimentos – quer para a agro exportação, quer para o mercado interno, e Angola forneceria a força de trabalho cativo. Este eixo é, para parte da historiografia, constitutivo do sistema atlântico luso e sustenta a concepção de uma monarquia pluricontinental, na qual Angola, destacando-se a cidade de Luanda, já no século XVII era um dos seus polos. A independência de Angola só foi declarada em 1975, marcando também o fim do colonialismo português.

[19] VELOSO, JOSÉ MARIANO DA CONCEIÇÃO (1742-1811):  frade franciscano e naturalista brasileiro, nasceu em 1741, na vila de São José da comarca do Rio das Mortes, distrito de Mariana, Minas Gerais. Entrou para o convento franciscano de São Boaventura, na antiga Vila de Santo Antônio de Sá, aos 19 anos de idade. Estudou filosofia e teologia no convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, onde se tornou frei. Lecionou geometria no convento de São Francisco de São Paulo (que depois tornou-se Faculdade de Direito), além de retórica e história natural, disciplina pela qual nutriu crescente interesse. Atuou, também, como pregador de alta nomeação e catequista de índios do Arary, os antigos Tamoios. Embora não tenha cursado a Universidade de Coimbra, tornou-se um dos mais destacados botânicos e naturalistas luso-brasileiros. Contando com o apoio do vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa, realizou inúmeras viagens filosóficas e científicas, coletando espécies para o Real Museu de História Natural da Ajuda (Portugal) e para seus estudos particulares. Membro da Academia Real das Ciências de Lisboa foi autor do importante trabalho Florae Fluminensis, fruto de oito anos de expedição pela capitania do Rio de Janeiro (1783-1790), no qual classificou numerosas espécies vegetais cujas definições científicas foram escritas pelo frei Anastácio de Santa Inês, e a maioria dos desenhos de autoria do Frei Francisco Solano. Em 1790, encerrados os trabalhos da Flora, Velloso vai a Lisboa acompanhar a impressão da obra e torna-se diretor e editor da Tipografia do Arco do Cego. Ativa entre 1799 e 1801, em Lisboa, a tipografia, além de ter publicado um número expressivo de livros, funcionou como uma oficina para o aprendizado das artes tipográficas e da gravura. O uso intensivo e didático de imagens era uma das marcas da editora. Com sua extinção em 1801, a Imprensa Régia herda suas funções, equipamentos e acervo bibliográfico e Frei Mariano é nomeado membro da Junta Administrativa, Econômica e Literária, encarregada da gerência da tipografia régia. Nesse período à frente da tipografia, coordenou, compilou e traduziu diversas obras, com destaque para as especializadas na modernização da produção agrícola, visando uma reforma científica dos campos. Publicou também diversos tratados, compêndios, memórias e livros relacionados à história natural, cultura de gêneros e especiarias, doutrina cristã, agricultura, zoologia, farmacologia, mineração e aplicações econômicas dos produtos naturais, além de um dicionário de português e línguas indígenas destinado à catequese dos índios. Em 1808, retornou ao Rio de Janeiro junto da comitiva da família real, vindo a falecer no Convento de Santo Antônio em 13 de junho de 1811. Curiosamente, a Florae fluminenses, sua maior obra, só seria publicada após sua morte (parte das descrições em latim foi editada em 1825 na Tipografia Nacional; as ilustrações começaram a chegar ao Rio de Janeiro em 1827 e o último volume em 1831, a impressão do texto completo ocorreu apenas em 1881). Em 1961 o Arquivo Nacional lançou em sua série Publicações Históricas, o título “Flora Fluminensis de frei José Mariano da Conceição Velloso – Documentos”, reeditado em 2018 em conjunto com a Eduff.

 

Sugestões de uso em sala de aula:
Utilização(ões) possível(is):
- No eixo temático do ensino fundamental do 3º Ciclo “História das relações sociais da cultura e do trabalho”
- Ao trabalhar o tema transversal “meio ambiente”  

Ao tratar dos seguintes conteúdos:
- A sociedade colonial: culturas naturais
- Economia colonial
- Brasil colonial: riquezas naturais 
- Negócios ultramarinos

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