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Irmandades

Irmandade de Santa Cecília

Escrito por Super User | Publicado: Sexta, 26 de Janeiro de 2018, 13h05 | Última atualização em Quinta, 25 de Março de 2021, 17h45

Registro de compromisso da Irmandade da gloriosa virgem e mártir Santa Cecília  para aqueles desejosos de ingressar como membro da irmandade. Dividido em dezesseis capítulos, esse documento é interessante por revelar, desde as exigências requeridas para se efetuar a adesão,  até as normas que regulavam a vida de um membro dessa instituição.  Desse modo, permite uma maior compreensão do cotidiano dessas instituições.

 

Conjunto documental: Registro Geral de Ordens Régias

Notação: códice 64, vol. 20

Datas-limite: 1753-1794

Título do fundo ou coleção: Secretaria de Estado do Brasil

Código do fundo: 86

Argumento de pesquisa: Irmandade

Data do documento: 8 de outubro de 1787

Local: Rio de Janeiro

Folha(s): 46v a 63v

 

 

“Registro do Compromisso[1] da Irmandade[2] da Gloriosa Virgem e mártir Santa Cecília[3] sita na igreja de N. S. do Parto[4] da cidade do Rio de Janeiro[5] de que é protetor o Il.mo e Ex.mo senhor vice-rei do Estado.

 

Capítulo Primeiro ...

 

1°- Toda a pessoa que quiser exercitar a profissão de músico[6], ou seja cantor, ou instrumentista será obrigado a entrar nesta confraria[7]; e para ser admitido por confrade representará à Mesa declarando a qualidade do seu estado a sua naturalidade para que a Mesa o possa admitir ou excluir sendo notoriamente inábil, ou publicamente escandaloso pelo seu mau procedimento. ...

 

3°- Não serão admitidos na Irmandade senão os professores[8] que tiverem verdadeira inteligência da música ... excluindo toda a pessoa que exercitar ofício mecânico[9]. Poderão porém ser admitidos todos os que exercitarem ofícios nobres pela utilidade que destes pode resultar a confraria. ...

 

4°- No ato de entrada de todo o que quiser ser irmão da confraria que não seja professor de música dará dois mil e quatrocentos réis[10]. ...

 

Capítulo Segundo

 

Da obrigação de todos os novos irmãos em geral.

 

1°- Serão obrigados os irmãos músicos a contribuírem para o cofre da Irmandade anualmente com um vintém[11] de cada pataca[12] que ganharem de todas as funções que forem cantar ou tanger[13]. ...

 

3°- Assistirão todos os nossos irmãos professores a festa da nossa Santa, e o que faltar sem ser por causa de moléstia, será multado por cada vez em dois arratéis[14] de cera. ...

 

4°- Falecendo qualquer dos nossos irmãos ou a mulher, filhos, ou pais de cada um deles devem os mais por ato de caridade achar-se na igreja onde vai a sepultar para ali rogarem a Deus N. Senhor pelas suas almas ....

 

5°- Nenhum dos nossos irmãos devem ensinar a profissão a pessoas que não sejam dignas de a exercitar e capazes de entrar na nossa irmandade ....

 

Cumpra-se como S. Majestade[15] manda registre-se aonde tocar. Rio 8 de Outubro de 1787. Luis de Vasconcelos e Souza[16].”

 

[1]COMPROMISSO: estatuto que regia as irmandades católicas. Os compromissos eram documentos juridicamente reconhecidos, nos quais vinham prescritas as normas, os deveres e as obrigações que implicavam a associação a essas instituições. Cada irmandade possuía um compromisso próprio, com suas especificidades.

[2] IRMANDADES: Associações de fiéis devotos a um santo, surgidas na Idade Média para valorização da religiosidade leiga e difusão do culto aos santos, somadas aos esforços de evangelização das populações pagãs. Presentes em Portugal na época da expansão marítima foram transplantadas para África e depois para a América também em um esforço de reforço da fé católica abalada com a reforma religiosa. As irmandades eram laicas – promoviam o culto aos santos, mas encarregavam-se de tarefas terrenas, como a assistência e a caridade com os desvalidos e doentes, garantindo aos irmanados além de sustento, um enterro cristão, com todos os ritos fúnebres católicos. Empenhavam-se também na materialidade da devoção, em promover a construção de igrejas e capelas, na aquisição de adornos, terrenos, materiais para liturgias além da promoção de festividades em louvor aos padroeiros. Eram regidas por estatutos conhecidos como compromissos, que estabeleciam a missão, as funções, o funcionamento, a administração e precisavam ser aprovados pela Mesa de Consciência e Ordens. As irmandades distinguiam-se das Ordens Terceiras porque não eram ligadas a nenhuma ordem regular como no caso das segundas, por essa razão eram também mais frequentes nas cidades e vilas de Portugal e da América Portuguesa. No geral, no território brasileiro algumas irmandades eram mais destacadas do que outras, como as dedicadas ao culto a Nossa Senhora do Rosário, ao Santíssimo Sacramento e as Santas Casas de Misericórdia, responsáveis pelos hospitais na colônia e por toda uma rede de assistência aos mais pobres. As irmandades reproduziam as hierarquias, diferenças e desigualdades da sociedade do Antigo Regime. Havia as exclusivas de brancos, negros, pardos, específicas de certos ofícios (continuando o papel das corporações europeias), como comerciantes, artesãos e músicos, por exemplo, e ainda havia as mistas, as quais, embora mais de um segmento da sociedade fosse aceito, a hierarquia interna ou administrativa reproduzia a pirâmide social de brancos no comando, e pardos e libertos ocupando os lugares mais baixos como membros. As irmandades negras eram muito numerosas no ultramar e além do papel de culto tinham a função de auxílio em necessidades, de espaço de sociabilidade e de quase reprodução de um vínculo familiar perdido na vinda do continente africano para a América. Eram também frequentes o sincretismo religioso e a prática de rituais associados às formas de devoção e culturas africanas nas festas. Embora fossem organismos de resistência – sabe-se de movimentos que surgiram a partir da articulação possível com as irmandades – além de cooperarem para a libertação de escravos com a arrecadação para compra de alforrias, também é preciso assinalar o papel aculturador e de certa forma opressor que essas associações representavam ao forçar os africanos e seus descendentes na liturgia e religião católicas, abandonando parte de suas culturas primitivas, além de disciplinarem as práticas de sociabilidade e a construção de identidades, controladas nas festividades e na prática cotidiana de sua devoção. As principais irmandades que reuniam a população branca eram as do Santíssimo Sacramento, da Misericórdia e da Santa Cruz dos Militares. As dos negros, pardos e mulatos eram as de Santo Elesbão e Santa Efigênia, do Rosário, do Amparo, dos Remédios, de São Benedito, de São Gonçalo, entre outras.

[3] IRMANDADE DE SANTA CECÍLIA: associação religiosa constituída em Lisboa provavelmente no início do século XVII, cuja primeira sede pegou fogo no Terremoto de 1755 e cujos primeiros documentos se perderam. Foi reconstruída em 1760 por alvará de d. José I, que atendeu ao pedido dos membros da irmandade que desapareceu. Essa nova versão da irmandade de Santa Cecília dos Músicos de Lisboa serviu de modelo para as irmandades de corporações que surgiram no Brasil durante o período colonial e o primeiro reinado, inclusive a própria irmandade de Santa Cecília, que só foi instalada por aqui na segunda metade do século XVIII. Antes disso os músicos se reuniam em outras irmandades, sobretudo as que aceitassem negros e mestiços, uma vez que muitos músicos da colônia eram forros, libertos e mulatos. A música era parte da educação das elites brancas coloniais, mas nunca como uma atividade laboral, ligada às artes liberais. Aos homens pobres, sobretudo de cor, restavam tais posições de trabalho que conferiam algum prestígio. Nas Minas Gerais, onde havia grande número de músicos, havia as irmandades de Nossa Senhora da Boa Morte, de Nossa Senhora das Mercês, de Nossa Senhora do Rosário, que recebiam os músicos, irmandades voltadas para a devoção de negros, cativos ou livres. A primeira irmandade de Santa Cecília instituída no Brasil foi a de Olinda, em 1760, a do Rio de Janeiro ocorreu em julho de 1784, quando teve seu compromisso registrado oficialmente por um tabelião, na Igreja de Nossa Senhora do Parto. O compromisso, ou os estatutos de funcionamento da agremiação, estabelecia o controle do exercício da profissão de músico, já que somente os irmãos poderiam trabalhar na área profissionalmente, além de estabelecer a necessidade de provar o talento e capacidade para a música. Regulava a estrutura da irmandade / corporação, as ações sociais a que os irmãos tinham direito, como sepultamentos, missas e auxílios financeiros e caridade, a distinção entre os tipos de músicos, a rígida disciplina no exercício profissional bem como as penas para a infração das regras, a perda do título de irmão em caso de mau uso da profissão ou  mau comportamento, os preparativos necessários para a festa da padroeira, principal evento que conferia prestígio à irmandade e seus membros, além de tratar das questões administrativas internas.

[4] N. S. DO PARTO: trata-se de uma das manifestações de Nossa Senhora. De acordo com a Igreja Católica, as dores do trabalho de parto são parte do purgamento necessário às mulheres por terem consumado uma ação pecaminosa em essência: a relação sexual. Na história de Maria, por ser uma virgem, e, portanto, imaculada do pecado original, Deus a livrou das dores do parto. A mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, pura e imaculada, era assim invocada para amenizar as dores e a apreensão de todas as mulheres que estivessem em trabalho de parto.

[5] RIO DE JANEIRO: a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada tendo como marco de referência uma invasão francesa. Em 1555, a expedição do militar Nicolau Durand de Villegaignon conquista o local onde seria a cidade e cria a França Antártica. Os franceses, aliados aos índios tamoios confederados com outras tribos, foram expulsos em 1567 por Mem de Sá, cujas tropas foram comandadas por seu sobrinho Estácio de Sá, com o apoio dos índios termiminós, liderados por Arariboia. Foi Estácio que estabeleceu “oficialmente” a cidade e iniciou, de fato, a colonização portuguesa na região. O primeiro núcleo de ocupação foi o morro do Castelo, onde foram erguidos o Forte de São Sebastião, a Casa da Câmara e do governador, a cadeia, a primeira matriz e o colégio jesuíta. Ainda no século XVI, o povoamento se intensifica e, no governo de Salvador Correia de Sá, verifica-se um aumento da população no núcleo urbano, das lavouras de cana e dos engenhos de açúcar no entorno. No século seguinte, o açúcar se expande pelas baixadas que cercam a cidade, que cresce aos pés dos morros, ainda limitada por brejos e charcos. O comércio começa a crescer, sobretudo o de escravos africanos, nos trapiches instalados nos portos. O ouro que se descobre nas Minas Gerais do século XVIII representa um grande impulso ao crescimento da cidade. Seu porto ganha em volume de negócios e torna-se uma das principais entradas para o tráfico atlântico de escravos e o grande elo entre Portugal e o sertão, transportando gêneros e pessoas para as minas e ouro para a metrópole. É também neste século, que a cidade vive duas invasões de franceses, entre elas a do célebre Duguay Trouin, que arrasa a cidade e os moradores. Desde sua fundação, esta cidade e a capitania como um todo desempenharam papel central na defesa de toda a região sul da América portuguesa, fato demonstrado pela designação do governador do Rio de Janeiro Salvador de Sá como capitão-general das capitanias do Sul (mais vulneráveis por sua proximidade com as colônias espanholas), e pela transferência da sede do vice-reinado, em Salvador até 1763, para o Rio de Janeiro quando a parte sul da colônia tornou-se centro de produção aurífera e, portanto, dos interesses metropolitanos. Ao longo do setecentos, começam os trabalhos de melhoria urbana, principalmente no aumento da captação de água nos rios e construção de fontes e chafarizes para abastecimento da população. Um dos governos mais significativos deste século foi o de Gomes Freire de Andrada, que edificou conventos, chafarizes, e reformou o aqueduto da Carioca, entre outras obras importantes. Com a transferência da capital, a cidade cresce, se fortifica, abre ruas e tenta mudar de costumes. Um dos responsáveis por essas mudanças foi o marquês do Lavradio, cujo governo deu grande impulso às melhorias urbanas, voltando suas atenções para posturas de aumento da higiene e da salubridade, aterrando pântanos, calçando ruas, construindo matadouros, iluminando praças e logradouros, construindo o aqueduto com vistas a resolver o problema do abastecimento de água na cidade. Lavradio, cuja administração se dá no bojo do reformismo ilustrado português (assim como de seu sucessor Luís de Vasconcelos e Souza), ainda criou a Academia Científica do Rio de Janeiro. Foi também ele quem erigiu o mercado do Valongo e transferiu para lá o comércio de escravos africanos que se dava nas ruas da cidade. Importantíssimo negócio foi o tráfico de escravos trazidos em navios negreiros e vendidos aos fazendeiros e comerciantes, tornando-se um dos principais portos negreiros e de comércio do país. O comércio marítimo entre o Rio de Janeiro, Lisboa e os portos africanos de Guiné, Angola e Moçambique constituía a principal fonte de lucro da capitania. A cidade deu um novo salto de evolução urbana com a instalação, em 1808, da sede do Império português. A partir de então, o Rio de Janeiro passa por um processo de modernização, pautado por critérios urbanísticos europeus que incluíam novas posturas urbanas, alterações nos padrões de sociabilidade, seguindo o que se concebia como um esforço de civilização. Assume definitivamente o papel de cabeça do Império, posição que sustentou para além do retorno da Corte, como capital do Império do Brasil, já independente.

[6] MÚSICO: trata-se do ofício de músico. Com relação à música no Brasil colonial, as irmandades religiosas viabilizaram a introdução dos instrumentos de corda no início do século XVIII. Conhecidos como “rabecas”, esses instrumentos eram utilizados nos festejos católicos. Por volta de 1750, a música sofreu mudanças, assumindo o estilo pré-clássico italiano, que então dominava a música portuguesa. Note-se que a grande maioria dos músicos, regentes e compositores deste período era constituída por mulatos, dentre os quais podemos citar Caetano de Melo Jesus, Luís Álvares Pinto e Manuel Dias de Oliveira. Na última década do século XVIII, houve a influência da música clássica italiana, cujos principais representantes foram Domênico Cimarosa e Giovanni Paisiello. Entre as músicas populares, existiam as modinhas e os lundus, sobretudo a partir da década de 1780, com acompanhamento de violas e guitarras.

[7] CONFRARIA: o termo tem origem na Idade Média, quando um grupo de pessoas se associa em torno de interesses ou objetivos comuns com vocação assistencial e espiritual. Podiam ser associações religiosas ou corporativas. Nascidas da solidariedade profissional, as confrarias laicas tinham como finalidades essenciais os socorros mútuos e defesa comum, a arbitragem corporativa, a assistência na doença, pobreza e velhice, assim como a velada, o sepultamento e o sufrágio das almas dos seus confrades. Já as de caráter religioso, eram associações de leigos que se reuniam para promover o culto a um santo, agrupando-se por vizinhança, foram extremamente importantes na América hispânica, fundamentais para a propagação da fé católica na colônia, devido ao precário número de missionários e paróquias para o vasto território.

[8] PROFESSOR: os jesuítas foram os primeiros professores da América portuguesa, atuando nas escolas de alfabetização para crianças e adultos, onde ensinavam leitura e religião a brancos e índios desde o século XVI. Com o crescimento populacional, a Coroa estendeu esta tarefa também aos profissionais laicos, aumentando a oferta do ensino escolar gratuito por meio das instituições militares, muito embora os colégios jesuítas fossem em muito maior número do que os estabelecimentos laicos. Através do alvará de 1759, d. José I, na figura de seu ministro Pombal, estabeleceu a reorientação do ensino luso, substituindo os métodos utilizados pelos jesuítas por outros que se faziam presentes no restante da Europa e que atendiam aos novos tempos ilustrados. Este novo método foi detalhado na instrução para “Professores de Gramática Latina e Hebraico” e por alguns livros recomendados, que deveriam ser seguidos pelos professores régios e particulares de instituições religiosas ou não.

[9] OFÍCIOS MECÂNICOS: o termo designa atividades relacionadas com trabalhos manuais. No Brasil colonial, tais ofícios eram considerados inferiores, dada a tradição cultural de valorização do ócio enquanto representação de nobreza, associando-os à escravidão. Com frequência esses ofícios se agruparam em irmandades como os ferralheiros, ferreiros, serralheiros e outros que se reuniram na Irmandade de São Jorge. Era tida como obrigatória tal filiação e, em alguns casos, as irmandades abrigaram a população negra e escravizada, a despeito das interdições decorrentes dos critérios da “limpeza de sangue”. A irmandade vedava em seu primeiro compromisso o acesso de “Judeu, Mouro, negro ou mulato ou de outra infecta nação”, observa Beatriz Catão. Mas, diante da intervenção da Coroa, iria admitir a presença tanto de irmãos proprietários de escravos quanto de forros e cativos, reunidos a partir do ofício exercido (Irmandades, ofícios e cidadania no Rio de Janeiro do século XVIII. IX Congresso Internacional da Brazilian Studies Association (BRASA),2008. Disponível em http://www.brasa.org/wordpress/Documents/BRASA_IX/Beatriz-Catao-Cruz-Santos.pdf). Já os ofícios nobres relacionavam-se às habilidades intelectuais, tais como as letras e as artes. No entanto, ao longo do século XIX, ofícios mecânicos prender-se-iam à ideia de “artes úteis”, permitindo uma aplicação concreta em campos como a guerra, a engenharia, ciências naturais, tipografia, ou seja, na produção de bens ou serviços públicos. Por serem considerados impulsionadores de atividades econômicas, os ofícios mecânicos ganhariam importância. Um exemplo foi a criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios por d. João VI em 1816, com o objetivo de formar “homens destinados não só aos empregos públicos da administração do estado, mas também ao progresso da agricultura, mineralogia, indústria e comércio de que resulta a subsistência, comodidade e civilização dos povos”. O decreto de criação da escola afirmava fazer-se “necessário aos habitantes o estudo das belas artes com aplicação e preferência aos ofícios mecânicos cuja prática, perfeição e utilidade dependem dos conhecimentos teóricos daquelas artes e difusivas luzes das ciências naturais, físicas e exatas”. As artes mecânicas incluíam ourivesaria, marcenaria e até concepção de inventos e máquinas destinados a melhorar algum aspecto da produção de bens.

[10] RÉIS: moeda portuguesa utilizada desde a época dos descobrimentos (séculos XV e XVI). Tratava-se de um sistema de base milesimal, cuja unidade monetária era designada pelo mil réis, enquanto o réis designava valores fracionários. Vigorou no Brasil do início da colonização (século XVI) até 1942, quando foi substituída pelo cruzeiro.

[11] VINTÉM: antiga moeda equivalente a 20 réis.

[12] PATACA: moeda espanhola no valor de 420 réis, que circulou em Portugal e na América portuguesa durante a União Ibérica (1580-1640). Após a restauração do reino de Portugal lançou um apataca, em prata, correspondendo a 320 réis.

[13] TANGER: tocar instrumento musical

[14] REFORMA DOS PESOS E MEDIDAS: com a unificação do território português surge a necessidade de padronização dos pesos e medidas no reino. Posteriormente, com a incorporação de novos territórios decorrente da expansão marítima e comercial, dos séculos XV e XVI, a preocupação com a uniformização dos pesos e medidas se estende a todo império ultramarino. A imprecisão das unidades de medidas usuais, que permitia fraudes, opunha-se à crescente importância de um sistema unificado e científico de pesos e medidas que facilitasse as transações comerciais, tanto no interior do império como entre as diferentes nações europeias. Apontando para uma tendência de uniformização dos pesos e medidas a nível mundial, em função do comércio e das trocas científicas, é adotado o “marco” em Portugal, medida de peso de uso corrente na Europa, por provisão, em outubro de 1488. Assim, observam-se diversas reformas e regramentos no sentido de estabelecer uma uniformização, e a partir do século XIX, a Academia Real das Ciências de Lisboa toma parte em algumas das comissões encarregadas das reformas. Ainda em 1812, é criada uma Comissão para o exame dos forais e melhoramentos da agricultura que, em conjunto com a Academia Real, propõe uma reforma baseada no modelo francês, mas que mantinha a terminologia portuguesa, de forma a atenuar a mudança. Finalmente, através de decreto de d. Maria II, em meados do século XIX, é implantado o sistema métrico decimal adotando a nomenclatura francesa. Até então, as unidades de medidas mais usadas em Portugal e, por conseguinte, no Brasil, eram: para comprimento, a légua (6.600 m), a braça (2,2 m), a vara (1,1 m) e o palmo (0,22 m); para peso, a arroba (≈15 kg), o marco (≈230 g), o arratel (≈460 g), a onça (28,691 g), o grão (50g) e a oitava (3,586 g). Já na pesagem do açúcar, utilizava-se o pão (63,4 Kg); o saco (75 Kg); o barril, a barrica e o tonel (120Kg); a caixa (300 Kg) e a tonelada (1000 Kg). Por fim, como medidas de volume, temos a cuia (1,1 l), a canada (2,662 l), o quartilho (0,665 l), o almude (31,944 l), o alqueire (36,4 l) e a pipa (485 l).

[15] MARIA I, D. (1734-1816): Maria da Glória Francisca Isabel Josefa Antônia Gertrudes Rita Joana, rainha de Portugal, sucedeu a seu pai, d. José I, no trono português em 1777. O reinado mariano, época chamada de Viradeira, foi marcado pela destituição e exílio do marquês de Pombal, muito embora se tenha dado continuidade à política regalista e laicizante da governação anterior. Externamente, foi assinalado pelos conflitos com os espanhóis nas terras americanas, resultando na perda da ilha de Santa Catarina e da colônia do Sacramento, e pela assinatura dos Tratados de Santo Ildefonso (1777) e do Pardo (1778), encerrando esta querela na América, ao ceder a região dos Sete Povos das Missões para a Espanha em troca da devolução de Santa Catarina e do Rio Grande. Este período caracterizou-se por uma maior abertura de Portugal à Ilustração, quando foi criada a Academia Real das Ciências de Lisboa, e por um incentivo ao pragmatismo inspirado nas ideias fisiocráticas — o uso das ciências para adiantamento da agricultura e da indústria de Portugal. Essa nova postura representou, ainda, um refluxo nas atividades manufatureiras no Brasil, para desenvolvimento das mesmas em Portugal, e um maior controle no comércio colonial, pelo incentivo da produção agrícola na colônia. Deste modo, o reinado de d. Maria I, ao tentar promover uma modernização do Estado, impeliu o início da crise do Antigo Sistema Colonial, e não por acaso, foi durante este período que a Conjuração Mineira (1789) ocorreu, e foi sufocada, evidenciando a necessidade de uma mudança de atitude frente a colônia. Diante do agravamento dos problemas mentais da rainha e de sua consequente impossibilidade de reger o Império português, d. João tornou-se príncipe regente de Portugal e seus domínios em 1792, obtendo o título de d. João VI com a morte da sua mãe no Brasil em 1816, quando termina oficialmente o reinado mariano.

[16] SOUZA, LUÍS DE VASCONCELOS E (1742-1809): nasceu em Lisboa e se formou em bacharel em cânones pela Universidade de Coimbra. Ainda em Portugal, ocupou importantes cargos da magistratura. Entre os anos 1779 e 1790, foi vice-rei do Brasil, sucedendo o 2º marquês do Lavradio. Em seu governo criou uma prisão especial destinada à punição dos escravos, como alternativa aos violentos castigos impostos pelos seus senhores; promoveu a cultura do anil, do cânhamo e da cochonilha; apoiou as pesquisas botânicas realizadas por frei José Mariano da Conceição Veloso e patrocinou a criação de uma sociedade literária no Rio de Janeiro em 1786. Entre as melhorias realizadas na cidade do Rio de Janeiro durante sua administração, destacam-se a reforma do largo do Carmo; o aterro da lagoa do Boqueirão; a construção do Passeio Público – primeiro jardim público do país – em 1783 e de novas ruas para facilitar seu acesso, como a rua do Passeio e das Bellas Noutes – atual rua das Marrecas. Foi um incentivador das obras de Mestre Valentim – um dos principais artistas do período colonial – responsável pelo projeto do Passeio Público e de outras obras públicas na cidade. Destacou-se, ainda, na repressão à Inconfidência Mineira [conjuração mineira], sendo um dos interrogadores de Joaquim Silvério dos Reis. Pelos serviços prestados à Coroa portuguesa, recebeu a honraria da Grã-Cruz da Ordem de Santiago e o título de conde de Figueiró.

Sugestões de uso em sala de aula:

Utilização(ões) possível(is):
- Ao trabalhar o tema transversal “Pluralidade cultural” 
- No eixo temático sobre a “História das representações e das relações de poder”

Ao tratar dos seguintes conteúdos:

- O Homem e a cultura
- A sociedade colonial: movimentos religiosos e culturais 
- As relações sociais de dominação na América
- Brasil colonial: organizações religiosas

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