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Acusações aos jesuítas

Publicado: Segunda, 30 de Novembro de -0001, 00h00 | Última atualização em Segunda, 30 de Novembro de -0001, 00h00
Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado ao conde da Cunha, abordando a preocupação do Rei com a possibilidade de ainda existirem jesuítas ocultos nas capitanias do Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado ao conde da Cunha, abordando a preocupação do Rei com a possibilidade de ainda existirem jesuítas ocultos nas capitanias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. O documento revela a preocupação das autoridades coloniais com relação às possíveis influências perniciosas que os jesuítas poderiam causar naquelas capitanias. 

Conjunto documental: Correspondência da Corte com o vice-reinado.
Notação: Códice 67, vol. 03
Datas-limite: 1766-1767
Título do fundo ou coleção: Secretaria de Estado do Brasil
Código do fundo: 86
Argumento de pesquisa: Companhia de Jesus
Data do documento: 17 de março de 1767
Local: Sítio Nossa Senhora da Ajuda
Folha(s): 16 a 19

“Para o conde da Cunha1 em 17 de Março de 1767.
Il.mo e Ex.mo Senhor
Sendo presentes a Sua Majestade2 as três cartas, que V. Ex.ª me dirigiu sobre o estado das finanças nessa capitania nas datas de 10; e 15 de setembro, e 8 de novembro do ano próximo passado: foi o mesmo senhor servido resolver, o que vou participar a V. Ex.ª.
O Rio de Janeiro3, e Minas Gerais4 se acham em circunstâncias dignas de toda a prudência política, devendo-se por isso prevenir toda a disposição de qualquer futuro contingente pelos motivos seguintes.
Consta a Sua Majestade, que os tesoureiros, e negociantes corrompidos dessa capital tem malquistado o governo de V. Ex.ª na praça desta cidade. E o mesmo, que para aqui se escreve é o que sente a praça da referida capital.
Da mesma sorte consta ao mesmo senhor, que nos domínios de Castela, que confinam conosco tem havido tumultos: e por isso ordena Sua Majestade, que V. Ex.ª precavendo, e prevenindo aquele mal, que costuma ser contagioso, aplique todos os meios, para que não entre em seus reais domínios.
É certo, que nessa capitania, e na das Minas ainda há jesuítas5 ocultos, e parentes, amigos, e aderentes seus, como se tem visto pelas diferentes cartas, que se tem descoberto: fazendo estas crer, que haverá muitas outras, que se não puderam descobrir: donde resulta outra raiz de sedição, que também V. Ex.ª deve precaver: acrescendo a isto a declarada cobiça, e malignidade do bispo, que na última prática com o procurador6 da Fazenda, de que V. Ex.ª avisou em uma das referidas cartas, se mostra, que não quer, que haja arrecadação da Fazenda Real7, mas que antes promove, e capea os descaminhos dela: o que também se faz digno de precaução. ... No caso de ser informado, de que quaisquer pessoas têm práticas, que podem ser tendentes a sedição ...:mande V. Ex.ª prender com grande segredo as tais pessoas, e as faça conservar presas no mesmo segredo em qualquer das fortalezas da barra mais distantes dessa cidade .... Deus guarde a V. Ex.ª. Sitio de Nossa Senhora da Ajuda8. 17 de Março de 1767. Francisco Xavier de Mendonça Furtado9.”



1 Trata-se de d. Antônio Álvares da Cunha (? – 1791), primeiro conde da Cunha, filho de d. Pedro Álvares da Cunha (oficial mor da Casa Real) e d. Inês de Melo e Ataíde. Foi capitão general de Mazagão e governador de Angola. Em 1759, foi nomeado ministro de Portugal junto do rei, sendo, quatro anos depois, nomeado vice-rei do Brasil.  Tornou-se o primeiro vice-rei do Rio de Janeiro, transformado na nova sede do governo colonial no Brasil por Pombal em 1763. Na nova função, promoveu a fortificação da cidade do Rio de Janeiro, ordenou o levantamento topográfico de toda a capitania, além da instalação dos arsenais da Marinha e do Exército. Em 1767, quando foi substituído pelo conde de Azambuja, regressou a Portugal, sendo nomeado conselheiro de guerra e presidente do tribunal ultramarino.  O título de conde foi-lhe concedido por d. José I, em 1760, em reconhecimento aos seus relevantes serviços, bem como pela atuação de seu tio, o diplomata d. Luís da Cunha, conde de Campo Belo.
2 D. José I, o “reformador”  (1714-1777). Sucessor de d. João V, foi o único rei de Portugal com este nome. Ficou conhecido, entre outras coisas, por ter reconstruído a parte baixa de Lisboa, atingida por um terremoto em 1755, e pela atuação do seu primeiro-ministro marquês de Pombal, que liderou uma série de reformas  em Portugal.
Marquês de Pombal (1699-1782) – Sebastião José de Carvalho e Mello, conde de Oeiras (1759) e depois marquês de Pombal (1777). Estadista português nascido em Lisboa, que se destacou como principal ministro no governo de d. José I. No cenário luso-brasileiro, foi o responsável por uma série de medidas importantes adotadas, dentre elas: expulsão dos Jesuítas de todo reino português (1759); a transferência da capital brasileira de Salvador para o Rio de Janeiro (1763) e a reforma do ensino em que se destaca a da Universidade de Coimbra (1772).
3 Fundada em 1565 por Estácio de Sá, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se sede do governo colonial em 1763,  adquirindo grande importância no cenário sócio-político do Brasil. O comércio marítimo entre o Rio de Janeiro, Lisboa e os portos africanos da Guiné, Angola e Moçambique constituía a principal fonte de lucro das Capitanias. As lavouras tradicionais da região eram o açúcar, o algodão e o tabaco. Com a chegada da Corte, em 1808, a cidade do Rio de Janeiro e regiões próximas sofreram inúmeras transformações, com vários melhoramentos urbanos, tornando-se referência para as demais regiões. Entre as mudanças figuram: a transferências dos órgãos da Administração Pública e da Justiça e a criação de academias, hospitais e quartéis. Importantíssimo negócio foi o tráfico de escravos trazidos, aos milhares, em navios negreiros e vendidos aos fazendeiros e comerciantes. O Rio de Janeiro foi um dos principais portos negreiros e de comércio do país.
4 Região inicialmente explorada no século XVII, em função da descoberta de jazidas de ouro pelos bandeirantes paulistas. Como resultado dessas explorações, a região das Minas Gerais teve uma intenso e acelerado povoamento, dado o interesse pelas lavras de metais preciosos e diamantes. O crescimento desta produção ocasionou uma maior fiscalização da Coroa, impulsionando inúmeros conflitos pelo direito de exploração das minas. Após um período de enriquecimento e esplendor, o final do século XVIII marca um esgotamento econômico. Este período de crise levou ao surgimento de movimentos favoráveis à independência, como solução para o término das pesadas tributações da Coroa Portuguesa. O principal conflito da região foi a Inconfidência Mineira (1789).
5 Padres da Companhia de Jesus. Ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola em 1540. Constituía uma ordem monástica marcada por uma severa disciplina, profunda devoção religiosa e intensa lealdade à igreja e à Ordem.  Dedicou-se à conversão dos heréticos e à tarefa de converter os gentios à fé católica. Criada para combater principalmente o movimento protestante, sua fundação respondeu à necessidade de renovação das ordens regulares surgida das determinações do Concílio de Trento (1545-1563). Os membros da Companhia de Jesus eram conhecidos por “soldados de Cristo”, dadas as suas características missionárias. A instalação da Companhia em Portugal e nos seus domínios ultramarinos deu-se ainda no século XVI, tendo o primeiro grupo de jesuítas chegado ao Brasil em 1549, na comitiva de Tomé de Souza. Além da catequese, coube aos jesuítas a transmissão da cultura nas possessões portuguesas através do ensino. O grande poder acumulado pela Companhia foi contestado durante a administração pombalina, gerando um conflito de interesses entre a Companhia de Jesus e o governo português. Cabe ressaltar que a decisão de expulsar os jesuítas de Portugal e de seus domínios, tomada pelo marquês de Pombal em 1759, não buscava reduzir o papel da Igreja, mas derivava da intenção de Pombal de secularizar a educação, seguindo os moldes da ilustração. Inácio de Loyola foi canonizado pelo papa Gregório XV em 12 de março de 1622.
Ilustração – movimento cultural e intelectual que se inicia em meados do século XVII na Europa, tendo como característica central o estabelecimento de uma razão pragmática e de uma cultura científica. Em Portugal, suas idéias se propagaram no reinado de d. José I com a atuação do marquês de Pombal.
6 Aquele responsável por tratar, mediante procuração ou foro, dos negócios de pessoas particulares e/ou da Coroa (procurador público).  
7 Órgão da administração pública real responsável por arrecadar, distribuir e fiscalizar os bens do reino.
8 Construído nos séculos XVIII e XIX, localiza-se em Lisboa foi utilizado inicialmente para fins residenciais e administrativos das autoridades portuguesas.
9 Irmão de Sebastião José de Carvalho e Melo, conde e Oeiras e mais tarde marquês de Pombal. Oficial de marinha, foi nomeado governador e capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão, quando da ascensão de seu irmão a Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Foi responsável pela demarcação das fronteiras no Norte do Brasil com a América Espanhola e empreendeu um programa de reformas administrativas, econômicas e militares para consolidar o domínio da coroa portuguesa sobre a região. Exerceu ainda os cargos de secretário de Estado adjunto do conde de Oeiras e secretário de Estado da Marinha e Negócios Ultramarinos.

Sugestões de uso em sala de aula:
Utilização(ões) possível(is):
No eixo temático sobre a “História das representações e das relações de poder”
Ao trabalhar o tema transversal “Ética”

Ao tratar dos seguintes conteúdos:
A organização administrativa do Brasil colonial
A sociedade colonial: movimentos religiosos e culturais 
A ilustração no Brasil: a expulsão jesuítica causas e conseqüências
Brasil colonial: organizações religiosas

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