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Instruções de boas maneiras

Publicado: Quinta, 21 de Junho de 2018, 14h38 | Última atualização em Quinta, 06 de Mai de 2021, 21h20

Instruções de boas maneiras dadas pelo rei d. José I para a educação de seu neto, o príncipe d. José. Dentre estas instruções constam a rotina diária que o príncipe deveria seguir, as atividades que deveria exercer e a forma com que deveria tratar e olhar as diferentes "classes de pessoas".

 

Conjunto documental: Instruções dadas por sua majestade, o senhor rei dom José o primeiro de boa memória, para a educação de seu augusto neto o sereníssimo príncipe dom José.
Notação: códice 1093
Data-limite: 1768 - 1768
Título do fundo: Casa Real e Imperial / Mordomia-mor
Código do fundo: Ø0
Argumento de pesquisa: Portugal, Casa Real
Data do documento: 7 de dezembro de 1768
Local: Portugal
Folha(s): 1 a 7v

 

Instruções dadas por S. M. Rei O Senhor Rei D. José o Primeiro[1] de boa memória para a educação do seu augusto neto o sereníssimo Príncipe d. José.[2]

Tenho resolvido que o Príncipe Meu sobre todos muito amado e prezado neto seja servido em quarto separado desde o dia de Nossa Senhora da Conceição em diante.

Será servido em cada semana por um dos gentis-homens da minha câmera que tenho nomeado para este importante exercício, por uma das moças da câmera da minha Guarda-roupa, dos que acabo também de nomear; por um reposteiro daqueles de meu particular serviço que ao mesmo tempo nomeei, e por um varredor dos que determinei para a limpeza do referido quarto.

A ele não subirão pessoas algumas que não sejam Reais, de qualquer estado e condição que possam ser além das acima nomeadas, sem especial ordem minha, o que porem não se entenderá compreender os ministros que tem assento e voto no meu conselho d'estado, o confessor do mesmo Príncipe frei Manoel do Cenáculo[3] e o instrutor de ler e escrever, Antônio Domingues do Passo, os quais terão sempre entrada livre no sobredito quarto.

 

Além dos referidos será chamado o cabeleireiro Carlos de Souza quando for necessário para executar o que pertence ao seu ofício; logo porém que tiver feito o serviço, para che for chamado, será imediatamente despedido sem que lhe permita fazer mais dilação.

A dignidade, a decência e o costume essencial e o costume das ... fazem necessário que as conversações como o Príncipe sejam reduzidas somente aos gentis - homens da Câmera[4], moços da guarda roupa, que o servem e aos Ministros do meu Conselho de Estado, sem que se possa permitir que os reposteiros, varredores, cabeleireiros, ou quaisquer outras pessoas destes semelhantes foros, tenham com o mesmo príncipe a menor prática, antes pelo contrário deverão sair do quarto, logo que houverem feito o serviço, que necessário for; o que porém se não entenderá com o reposteiro, que deve ficar em cada noite para executar prontamente, o que lhe for ordenado no serviço do Príncipe; ou seja pelo gentil - homem da Câmera, ou pelo moço do guarda - roupa, que dormir no referido quarto.

A tenra idade, e a compleição do Príncipe não permitem que a sua atenção e a memória sejam gravadas com todos os documentos religiosos e políticos que lá em mais adiantados anos se farão oportunar.

É com tudo, necessário que o Príncipe se costume desde logo a repartir as horas, para viver com método, que em tão altas Pessoas se faz indispensável.

Sem que de repente seja obrigado o mesmo Príncipe a levantar-se cedo com desvelo prejudicial à sua preciosa saúde, é preciso com tudo que com cinco ou dez, ou quinze minutos de antecipação, em dois, três ou quatro dias se vá reduzindo gradual e periodicamente ao estado de poder despertar- se sem prejuízo a horas competentes para cumprir  com as suas obrigações de Cristão, de filho e de Príncipe, vindo beijar a mão a seus avós e Pais pela porta do trânsito interior, de que o camarista da semana deve ter uma chave, logo que acabar a oração e se levantar da cama, indo com sua mãe à missa se couber no possível e voltando imediatamente para o seu quarto, via resta, sem que nunca se perca de vista na ida e na volta, de sorte que seja distraído ou divertido para conversações que lhe tome o tempo desnecessariamente.

As mais precisas conversações por hora, dentro do referido quarto, são as que devem verter sobre as coisas mais necessárias e mais próprias a idade do Príncipe.

Observando-se com exata vigilância o seu comportamento com as pessoas que forem obsequia-lo, se lhe deve sugerir a propósito: primo a compostura do corpo, a figura em que estará em quanto lhe falarem, sem fazer gestos ou jeitos com contorções contrárias à gravidade e muito mais ao caráter de sua pessoa: secundo que quando falar com as ditas pessoas, deve olhar para elas fixamente sem por os olhos no chão, como envergonhado, ou noviço e sem distrair a vista com demora para outros objetos: tertio, que se deve propor sempre que falar aos vassalos a idéia não só de lhes comprimir respeito com aquela modéstia e compostura de ações, mas também de lhes ganhar o amor pela afabilidade, com que as receber: quarto, que isto o conseguirá empregando uma ou duas palavras obrigantes ou ainda somente usando de um certo arzinho afável, o que quando se lhe fizer algum serviço, ou se lhe dizer coisa digna de reconhecimento, não e impróprio nos Príncipes, mas n'eles tão natural, como o e a sua grandeza.

Passando as outras conversações, mais interessantes, o tempo irá trazendo cada dia mais oportunamente, e sendo necessário, que o Príncipe não veja, nem ouça coisa alguma que não seja ordenada a formar-lhe o espírito sobre as boas máximas que Eu desejo e espero em Deus que louvavelmente governem todas as ações de sua vida, advirto a este respeito o seguinte:

E muito próprio dos anos em que o Príncipe se acha, gostar de ouvir contar histórias e pedir que lh'as contem para se divertir, e neste mesmo sentido se lhe devem sugerir e fazer gostar com estilo decente e com suavidade de modo coisas tão oportunas e necessárias como as que vão abaixo indicadas.

Sendo da grandeza de Deus Nosso Senhor, das obras da sua onipotência na criação do mundo e da Religião Cristã, que professamos, as primeiras ideias que se devem dar ao Príncipe serão para lhe fazer ver, e imprimir na memória as excelentes histórias do velho e novo Testamento representado com figuras pelo insigne Theargo Saey, porque cada figura é um útil registro para a recreação das primeiras idades, e para n'elas se imprimirem assim as ideias como as noções dos seus significados. Nenhuma prudência será porém demasiada a respeito desta necessária aplicação para eleger e praticar o virtuoso meio entre as duas perigosas extremidades da irreligião e do fanatismo, porque é certo que uma e outra tem levado após de si as ruínas dos Reinos, e dos Impérios.

Porque porém a referida prudência neste ponto, pertence mais principalmente ao cuidado do confessor, tudo quanto resta fazer aos outros assistentes é desviar, como de necessidade o Príncipe do que pode distrair-lhes o ânimo e fazê-lo declinar ou para a incredulidade, ou para a incontinência, sem com tudo se lhe abaterem os espíritos, e se lhe tirar o brio juvenil, o que se conseguira permitindo - se - lhe com dissimulação ou sem ela: conforme o caso pedir: tudo o que nos limites da Cristandade e da Nobreza costuma permitir-se aos Príncipes pelo que são prudentes.

Não se devendo criar tão pouco um Príncipe filósofo com aplicações abstratas e com dissertações metafísicas, é igualmente indispensável que as ditas conversações familiares, que se tiverem no referido quarto, vertam sobre coisas nobres, úteis, práticas e tais como as que vão indicadas nos exemplos seguintes.

Primeiro exemplo: Pode introduzir-se por conversação na presença do Príncipe uma disputa sobre a reputação, perguntando um, que coisa ele seja e outro respondendo que e o colar natural que vivifica os corpos das Monarquias, que por isso foi sempre a mais preciosa e recatada menina dos olhos dos maiores monarcas do Mundo, porque viram que a reputação pode mais que os exércitos para a conservação das monarquias. E porque sem ela não pode Príncipe algum subsistir sobre o trono; desta ponderação se tirará um eficaz motivo para suavemente desviar o Príncipe de qualquer distração, o que possa inclinar a vontade ponderando-se-lhe o zelo, que deve ter do seu bom nome.

 

Segundo exemplo: em outra semelhante conversação se pode propor, se é possível que um Reino desarmado possa ter segurança, para se conservar somente pela razão do direito, com que lhe assistem os Tratados políticos, ou os Títulos hereditários, e resolvendo qualquer das constantes circunstantes que é impossível que um tal Reino se possa conservar, se deve remeter o Príncipe à história desta monarquia, excitando-lhe a curiosidade de a examinar, e reduzindo a substância as quatro épocas, que naturalmente oferecem as fastos Portuguesas.

Na primeira das ditas épocas, se devem substanciar os exércitos, as guerras e as batalhas dos primeiros Monarcas, destes Reinos, com que não só lhe defenderam dos Mouros[5] e vizinhos, mas obrigaram uns e outros a saírem do nosso continente, extraindo-se estas noções das coleções das Crônicas compiladas pelo Licenciado Duarte Nunes Leão[6].

 

Na segunda época se devem resumir os gloriosos progressos das poderosas armadas dos Senhores Reis Dom João II[7] e D. Manoel[8], extraídas das admirações tiradas do insigne João de Barros e da vida do Infante Dom Henrique[9] estampada no ano 1748.

Na terceira época se devem substanciar os fatos dos duzentos anos com que os intitulados Jesuítas[10] aniquilaram as armas e a milícia, mostrando que pela falha d'ela, foi Portugal sujeito a Castela[11] e perdeu com a liberdade a glória, a honra e a fama que tinha adquirido em quanto foi armado, provendo-se tudo isto com o outro compêndio extraído da primeira parte da dedução Cronológica e Analítica.

Na quarta e última época se deve ponderar a restauração da glória e nome português da sua navegação e florescente comércio n'estes últimos dezoito anos, depois que as tropas a marinha, as praças e as fortalezas do reino se puseram no respeitável estado, em que hoje se acham, extraindo-se para assim se mostrar a substancia da divisão 15ª da dita dedução.

Terceiro exemplo: Em outras das sobreditas conversações se deve refletir sobre a indispensável necessidade que os príncipes têm de se aplicarem ao estudo da Geometria, porque só com a ciência d'ela podem discorrer e obrar sobre princípios certos e demonstrados, e podem conhecer e reprovar os sofismos, como que muitos homens por lisonja, por interesse próprio, e por falso zelo intentam engana-los, fazendo-se compreender sobre isto ao Príncipe, que por falta de conhecimento desta utilíssima arte esses Monarcas precipitar as suas reais pessoas e seus Reinos nas maiores ruínas, bastando para a sua convicção, a infantíssima guerra, com que os denominados Jesuítas levaram á África o infelicíssimo Rei D. Sebastião[12] para deixar, como deixou, sepultadas n'aquelas infames terras com a sua real pessoa, a honra a fama o cabedal e a liberdade destes Reinos e seus Domínios.

Quarto exemplo: Em outras e iguais conversações se pode tratar entre as circunstantes da Geografia da Europa e da cartografia dos diferentes Reinos e Estados que n'ela se contém, questionando-se a situação de alguns dos ditos Reinos, de sorte que o Príncipe seja encaminhado a decidir a dúvida, que de propósito se deve conservar indecisa, e persuadida a demonstrar no globo a posição do país devidado visto que já se acha iniciado nas divisões da Esfera, e que por isso lhe servem de divertimento e aplicação, e o conhecimento das terras conteúdas no dito globo.

A imitação dos referidos exemplos se devem ir acrescentando as oportunas conversações e conferências sobre matérias próprias da instrução do Príncipe.

Não deve porém esta praticar-se: em quanto couber-mo possível: por modo de um estudo forçado e cacetivo, que lhe faça criar aversão as lições que há de receber; muito pelo contrário se lhe irão estas introduzindo pelo referido modo de conversação e conferência, porque este modo não só é o mais suave e agradável, mas também o que mais aproveita.

As primeiras três horas próximas e seguintes ao jantar devem ser reservadas para divertimento do Príncipe, proporcionando-se-lhe estas de sorte que se lhe façam gratas, sem ser perigosas ou menos decentes.

A sua viveza natural e o hábito, em que se acha de altercar razões e sustentar profias com as criadas dos quartos, aonde até agora assistia, podem fazer com que o mesmo Príncipe em algumas ocasiões pretenda obstinar-se contra o que lhe for proposto. E n'estes casos será preciso dizer-lhe: primo, que repare em que tudo o que se lhe propõe são ordens Minhas, as quais nem os criados que o servem podem deixar de executar, nem a ele deixar de obedecer: secundo, que faça reflexão em que uma desobediência ás ordens de sua avó e de seu Pai é coisa tão feia e imprópria de um tão grande Príncipe, que em qualquer vassalo ordinário causa horror e escândalo: tertio, quando isto não baste ainda, se lhe deve ponderar com ar de sentimento, que ser teimoso e inflexível é vicio de um ânimo baixo e humilde, e não qualidade de um Príncipe que deve ser o exemplar de todas as virtudes: quarto, que por isso tenho dado ordem de se Me participar o que suceder, quando Ele Príncipe se achar em tão inesperado caso. E com efeito Ordeno que assim se observe nos casos ocorrentes, antes que o Príncipe possa contrair um hábito de inflexibilidade.

 

Palácio de Nossa Senhora d'Ajuda/ 7 dezembro 1768.Rei

 

[1] JOSÉ I, D. (1714-1777): sucessor de d. João V, foi aclamado rei em setembro de 1750, tendo sido o único rei de Portugal a receber este título. Considerado um déspota esclarecido – monarcas que, embora fortalecessem o poder do Estado por eles corporificado, sofriam intensa influência dos ideais progressistas e racionalistas do iluminismo, em especial no campo das políticas econômicas e administrativas – ficou conhecido como o Reformador devido às reformas políticas, educacionais e econômicas propostas e/ou executadas naquele reinado. O governo de d. José I destacou-se, sobretudo, pela atuação do seu secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, marquês de Pombal, que liderou uma série de reestruturações em Portugal e seus domínios. Suas reformas buscavam racionalizar a administração e otimizar a arrecadação e a exploração das riquezas e comércio coloniais. Sob seu reinado deu-se a reconstrução da parte baixa de Lisboa, atingida por um terremoto em 1755, a expulsão dos jesuítas do Reino e domínios ultramarinos em 1759, a guerra guaranítica (1754-56) contra os jesuítas e os índios guaranis dos Sete Povos das Missões, a assinatura do Tratado de Madri (1750), entre Portugal e Espanha que substituiu o Tratado de Tordesilhas, entre outros. Em termos administrativos, destacam-se a transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, a criação do Erário Régio e a divisão do antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão em dois: Maranhão e Piauí, e Grão-Pará e Rio Negro.

[2] JOSÉ, PRÍNCIPE D. (1761-1788): filho primogênito da rainha Maria I de Portugal e de seu tio e marido d. Pedro III, o Infante José de Bragança nasceu no Palácio de Nossa Senhora da Ajuda, em Lisboa. Aos 16 anos de idade, casou-se a 7 de fevereiro de 1777, com sua tia, a infanta Maria Benedita, filha mais nova de d. José I e de d. Mariana Vitória. Em razão da morte de d. José I, em 1777, e da consequente ascensão de d. Maria I ao trono, os recém-casados tornaram-se príncipes do Brasil. O matrimônio durou 11 anos, quando d. José adoeceu gravemente e veio a falecer em 1788. Não havendo sucessão, o herdeiro da Coroa passou a ser o príncipe d. João, seis anos mais novo que o irmão, que viria a se tornar d. João VI.

[3]  VILLAS BOAS, FREI MANOEL DO CENÁCULO (1724-1814): nascido em Lisboa, frei Manoel do Cenáculo, filho de José Martins e Antônia Maria, ambos de origem modesta, professou na Ordem Terceira de São Francisco em Lisboa em 1740, doutorou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra em 1749 e regeu a cadeira de teologia da faculdade entre 1751 e 1755, além de ter feito parte da Junta Reformadora da Sociedade em 1772. Ao longo de sua vida recebeu títulos e ocupou cargos importantes como o de Provincial da Ordem Terceira em Portugal, deputado da Real Mesa Censória (1768), além de bispo de Beja (1770). Gozando de prestígio e de respeito da família real, foi nomeado, em março de 1769, confessor do príncipe d. José e, a partir de 1770, seu preceptor. Procurou imprimir no jovem príncipe uma educação de orientação marcadamente iluminista, associando o conhecimento ao exercício do poder. Durante o reinado de d. José I, destacou-se como educador e reformador estreitamente sintonizado com a política do então ministro do rei, marquês de Pombal, a quem auxiliou no projeto de desenvolvimento da instrução pública. Com a morte do Rei e a demissão de Pombal, em 1777, frei Manoel do Cenáculo retornou a seu bispado, onde residiu por 25 anos, dedicando-se aos seus estudos e à contribuição para criação de bibliotecas, como a do convento de Jesus em Lisboa (hoje da Academia Real das Ciências, da qual foi sócio honorário), e a Biblioteca Pública de Lisboa. Em 3 de março de 1802, foi nomeado pelo príncipe regente D. João, arcebispo da Santa Igreja Metropolitana de Évora onde continuou promovendo a instrução do clero e da sociedade até o seu falecimento, aos 89 anos.

[4]  GENTIL HOMEM: a expressão surgiu em Portugal, a partir de 1580, por influência holandesa na organização da corte espanhola, e indica nobres, fidalgos ou homens de boas famílias. Com o tempo, passou a associar-se a uma designação de cargo específico, como gentil-homem da câmara, ou gentil-homem de artilharia, posto militar que desapareceu por volta de 1707.

[5] MOUROS: também chamados de mauros ou mauritanos (pelos antigos romanos), o termo refere-se aos povos islâmicos de língua árabe oriundos do Norte da África que a partir do século VII invadiram a Península Ibérica, a Sicília, Malta e a França. Faziam parte dos grupos étnicos berberes e árabes, dominaram por vários séculos parte da Europa, divididos em grandes e pequenos califados, emirados e taifas. Até o ano de 1492 quando foi encerrado o processo de Reconquista com a rendição do último reino, de Granada (Espanha), expandiram sua cultura, arquitetura e religião principalmente entre os ibéricos, convertendo boa parte de seus habitantes ao islamismo. Com a retomada do Cristianismo como religião oficial, a maior parte das monumentais mesquitas construídas pelos mouros foi convertida em igrejas em um processo de sincretismo, e a arquitetura mista passou a ser denominada mourisca, bem como os mouros que se converteram ao Cristianismo e permaneceram na Europa depois da expulsão definitiva.

[6]LEÃO, DUARTE NUNES (1530?-1608): em 1521, d. Manoel, 14º rei de Portugal (1495-1521) dirigiu a reforma das ordenações – compilações de todas as leis vigentes em Portugal – que havia promulgado em 1520. O jurista e procurador da Casa de Suplicação licenciado Duarte Nunes Leão, foi, então, o responsável pelo recolhimento e organização num único volume das várias leis que não estavam inseridas nessas ordenações: eram as chamadas leis extravagantes. Para isso pesquisou as leis que se encontravam nas diferentes instituições do reino, especialmente na Casa de Suplicação, na Casa do Cível e na Chancelaria-mor, além das leis contidas nos livros da Fazenda, dos Contos do reino, do Conselho de Lisboa e da Torre do Tombo. A compilação de Duarte Nunes Leão foi aprovada pelo alvará de 14 de fevereiro de 1569.

[7]  JOÃO II, D. (1455-1495): nasceu em Lisboa, filho do rei Afonso V e da rainha d. Isabel. Casou-se em janeiro de 1471 com sua prima coirmã d. Leonor, filha do infante d. Fernando, duque de Viseu, e de d. Beatriz. Do matrimônio nasceu d. Afonso, em Lisboa, a 18 de maio de 1475. Durante as frequentes viagens do pai, d. João assumiu o governo, tendo exercido o poder de fato, mesmo antes de subir ao trono em 31 de agosto de 1481. Seu reinado foi marcado pela política de expansão ultramarina, implementada através dos incentivos e contribuições a importantes rotas marítimas, como a navegação por toda a costa da África; a viagem de Bartolomeu Dias em torno do Cabo da Boa Esperança em 1487 e a descoberta de um novo caminho para as Índias por Vasco da Gama em 1498. Estimulou ainda a descoberta da América setentrional e acompanhou, em 1494, a assinatura do Tratado de Tordesilhas. Internamente, seu governo se caracterizou por uma forte centralização e um fortalecimento do poder real, tendo reprimido as conspirações da nobreza e reduzido drasticamente o poder das grandes casas do reino. A última fase do seu reinado tem como ponto central a crise de sucessão provocada pela morte do infante d. Afonso em um acidente a cavalo, a 13 de julho de 1491. Em seu testamento, o rei nomeia d. Manoel, irmão da rainha, para seu sucessor.

[8] MANUEL I, D. (1469-1521): apelidado de o Venturoso, d. Manuel I foi o 14º rei de Portugal. Sucedendo a d. João II em 1495, deu continuidade ao projeto marítimo português, incentivando os a conquista de novas terras e o desenvolvimento de monopólios comerciais. Sob seu reinado, deu-se o descobrimento do caminho marítimo para a Índia (1498) e do Brasil (1500), além de se ter assegurado o controle sobre as rotas comerciais no Oriente. No âmbito interno, d. Manuel promoveu uma reforma no ensino universitário através do estabelecimento de novos planos de estudo e de uma nova administração (1500-1504); promoveu uma reforma na legislação portuguesa que resultou nas Ordenações Manuelinas (1521); construiu prédios reais, fundando o estilo manuelino; entre outras medidas. Seu governo foi marcado ainda pela perseguição aos judeus e muçulmanos no Reino, principalmente entre os anos de 1496 e 1498, embora tenha buscado acabar com a perseguição aos judeus convertidos e à distinção entre cristãos-novos e velhos perante a lei. Homem religioso, investiu na construção de igrejas e mosteiros, como também patrocinou a catequese nas novas possessões.

[9] D. HENRIQUE: Infante português, filho de d. João I e da rainha d. Felipa de Lancastre, também conhecido como o Navegador. É considerado o grande instigador das viagens dos descobrimentos às costas africanas. Em 1417, voltando de uma expedição a Ceuta, estabeleceu-se em Sagres, junto ao Cabo de São Vicente, onde passaram a se reunir diversos fidalgos para a discussão de assuntos concernentes às expedições navais. Estas reuniões tornaram-se conhecidas como Escola de Sagres.

[10]  HEBREUS: povo‌ ‌de‌ ‌origem‌ ‌semita‌ ‌-‌ ‌indivíduos‌ ‌descendentes‌ ‌dos‌ ‌povos‌ ‌e‌ ‌culturas‌ ‌oriundas‌ ‌da‌ ‌Ásia‌ ‌ocidental‌ ‌e,‌ ‌portanto,‌ ‌pertencentes‌ ‌à‌ ‌mesma‌ ‌família‌ ‌etnográfica‌ ‌e‌ ‌lingüística,‌ ‌como‌ ‌os‌ ‌assírios,‌ ‌os‌ ‌aramaicos,‌ ‌os‌ ‌fenícios‌ ‌e‌ ‌os‌ ‌árabes‌ ‌-,‌ ‌os‌ ‌hebreus,‌ ‌segundo‌ ‌os‌ ‌primeiros‌ ‌relatos,‌ ‌habitavam‌ ‌o‌ ‌sul‌ ‌da‌ ‌Mesopotâmia.‌ ‌Eram‌ ‌pastores‌ ‌seminômades,‌ ‌organizados‌ ‌em‌ ‌pequenos‌ ‌grupos,‌ ‌e‌ ‌que‌ ‌tinham‌ ‌na‌ ‌religião‌ ‌judaica‌ ‌a‌ ‌sua‌ ‌principal‌ ‌característica,‌ ‌aquilo‌ ‌que‌ ‌os‌ ‌identificava‌ ‌como‌ ‌povo.‌ ‌O‌ ‌judaísmo‌ ‌-‌ ‌primeira‌ ‌religião‌ ‌monoteísta‌ ‌-,‌ ‌os‌ ‌diferenciava‌ ‌sobremaneira‌ ‌dos‌ ‌outros‌ ‌povos‌ ‌que‌ ‌também‌ ‌habitavam‌ ‌essa‌ ‌conturbada‌ ‌região‌ ‌e‌ ‌praticavam‌ ‌o‌ ‌politeísmo.‌ ‌Há‌ ‌aproximadamente‌ ‌2000‌ ‌anos‌ ‌a.C.,‌ ‌os‌ ‌hebreus‌ ‌radicaram-se‌ ‌no‌ ‌vale‌ ‌do‌ ‌rio‌ ‌Jordão,‌ ‌na‌ ‌Palestina.‌ ‌A‌ ‌partir‌ ‌dessa‌ ‌ocupação,‌ ‌deixam‌ ‌o‌ ‌seu‌ ‌estado‌ ‌tribal‌ ‌para‌ ‌assumir‌ ‌uma‌ ‌identidade‌ ‌nacional,‌ ‌onde‌ ‌a‌ ‌terra,‌ ‌ ‌tornar-se-ia‌ ‌outro‌ ‌elemento‌ ‌de‌ ‌união‌ ‌desse‌ ‌povo.‌ ‌Por‌ ‌volta‌ ‌do‌ ‌ano‌ ‌70‌ ‌d.C.,‌ ‌os‌ ‌romanos‌ ‌dominaram‌ ‌a‌ ‌região,‌ ‌destruindo‌ ‌sua‌ ‌principal‌ ‌cidade,‌ ‌Jerusalém. A‌ ‌partir‌ ‌de‌ ‌então,‌ ‌os‌ ‌hebreus, expulsos,‌ ‌dispersaram-se‌ ‌pelo‌ ‌mundo‌ ‌–‌ ‌o que ficaria conhecido como‌ ‌diáspora‌ ‌judaica.‌ ‌Foi‌ ‌no‌ período‌ ‌romano‌ ‌que‌ ‌o‌ ‌etnônimio‌ ‌passou‌ ‌a‌ ‌ser‌ ‌utilizado‌ ‌também‌ ‌para‌ ‌referir-se‌ ‌aos‌ ‌judeus‌,‌ ‌um‌ ‌grupo‌ ‌étnico‌ ‌e‌ ‌religioso‌ ‌de‌ ‌ascendência‌ ‌hebraica.‌ ‌Durante‌ ‌a‌ ‌diáspora,‌ ‌os‌ ‌hebreus‌ ‌migraram‌ ‌para‌ ‌outras‌ ‌regiões‌ ‌do‌ ‌globo,‌ ‌sobretudo‌ ‌a‌ ‌Ásia‌ ‌Menor,‌ ‌África‌ ‌e‌ ‌o‌ ‌sul‌ ‌da‌ ‌Europa,‌ ‌onde‌ ‌formaram‌ ‌comunidades‌ ‌judaicas‌ ‌no‌ ‌intento‌ ‌de‌ ‌manter‌ ‌suas‌ ‌crenças‌ ‌e‌ ‌tradições.‌ ‌No‌ ‌mundo‌ ‌ibérico,‌ ‌sua‌ ‌presença‌ ‌sempre‌ ‌foi‌ ‌bastante‌ ‌conturbada.‌ ‌Constantemente‌ ‌sujeitos‌ ‌a‌ ‌perseguições,‌ ‌os‌ ‌judeus‌ ‌eram‌ ‌difamados‌ ‌como‌ ‌usurários,‌ ‌assassinos,‌ ‌ladrões,‌ ‌feiticeiros,‌ ‌etc.‌ ‌Expulsos‌ ‌pela‌ ‌Inquisição‌ ‌espanhola,‌ ‌em‌ ‌1492,‌ ‌também‌ ‌enfrentaram‌ ‌a‌ ‌Inquisição‌ ‌em‌ ‌‌Portugal‌,‌ ‌após‌ ‌o‌ ‌casamento‌ ‌entre‌ ‌‌d.‌ ‌Manoel‌ ‌I‌ ‌e‌ ‌Isabel,‌ ‌princesa‌ ‌espanhola‌ ‌filha‌ ‌dos‌ ‌reis‌ ‌católicos.‌ ‌Entre‌ ‌as‌ ‌diversas‌ ‌leis‌ ‌contra‌ ‌os‌ ‌judeus,‌ ‌que‌ ‌foram‌ ‌publicadas‌ ‌nessa‌ ‌época,‌ ‌destaca-se‌ ‌o‌ ‌édito‌ ‌de‌ ‌expulsão‌ ‌de‌ ‌d.‌ ‌Manoel‌ ‌I,‌ ‌publicado‌ ‌em‌ ‌1496,‌ ‌que‌ ‌obrigava‌ ‌os‌ ‌judeus‌ ‌e‌ ‌muçulmanos‌ ‌a‌ ‌sair‌ ‌do‌ ‌país‌ ‌ou‌ ‌a‌ ‌converter-se‌ ‌ao‌ ‌cristianismo.‌ ‌A‌ ‌partir‌ ‌de‌ ‌então,‌ ‌milhares‌ ‌de‌ ‌judeus‌ ‌foram‌ ‌forçados‌ ‌a‌ ‌adotar‌ ‌a‌ ‌fé‌ ‌católica,‌ ‌tornando-se‌ ‌os‌ ‌chamados‌ ‌‌cristãos-novos‌,‌ ‌mudando,‌ ‌inclusive,‌ ‌seus‌ ‌nomes,‌ ‌embora‌ ‌muitos‌ ‌tenham‌ ‌conservado‌ ‌em‌ ‌segredo‌ ‌a‌ ‌sua‌ ‌identidade,‌ ‌sendo‌ ‌denominados‌ ‌criptojudeus.‌ ‌Nas‌ ‌várias‌ ‌ondas‌ ‌de‌ ‌antissemitismo‌ ‌que‌ ‌atingiram‌ ‌os‌ ‌judeus,‌ ‌seus‌ ‌bens‌ ‌foram‌ ‌confiscados‌ ‌e‌ ‌suas‌ ‌mulheres‌ ‌condenadas‌ ‌à‌ ‌fogueira‌ ‌como‌ ‌hereges.‌ ‌Com‌ ‌relação‌ ‌à‌ ‌América‌ ‌portuguesa,‌ ‌os‌ ‌judeus‌ ‌aqui‌ ‌aportaram‌ ‌já‌ ‌em‌ ‌1503,‌ ‌na‌ ‌condição‌ ‌de‌ ‌cristãos-novos,‌ ‌impulsionando‌ ‌o‌ ‌processo‌ ‌de‌ ‌colonização,‌ ‌com‌ ‌o‌ ‌aval‌ ‌da‌ ‌Coroa‌ ‌portuguesa.‌ ‌Desde‌ ‌1535,‌ ‌era‌ ‌prática‌ ‌Portugal‌ ‌deportar‌ ‌para‌ ‌a‌ ‌América‌ ‌criminosos‌ ‌de‌ ‌todos‌ ‌os‌ ‌tipos‌ ‌e,‌ ‌com‌ ‌a‌ ‌introdução‌ ‌do‌ ‌Santo‌ ‌Ofício‌ ‌no‌ ‌Reino,‌ ‌que‌ ‌teve‌ ‌seu‌ ‌primeiro‌ ‌Auto-de-fé‌ ‌em‌ ‌1540,‌ ‌os‌ ‌judaizantes‌ ‌-‌ ‌assim‌ ‌denominados‌ ‌aqueles‌ ‌que‌ ‌secretamente‌ ‌praticavam‌ ‌a‌ ‌fé‌ ‌judaica,‌ ‌mesmo‌ ‌na‌ ‌condição‌ ‌de‌ ‌cristãos-novos‌ ‌-‌ ‌também‌ ‌seriam‌ ‌degredados‌ ‌para‌ ‌o‌ ‌além-mar.‌ ‌Muitos‌ ‌também‌ ‌vieram‌ ‌fugidos‌ ‌da‌ ‌Inquisição‌, mesmo antes de uma acusação formal, ‌pois o tribunal‌ ‌foi‌ ‌implacável‌ ‌na‌ ‌busca‌ ‌da‌ ‌origem‌ ‌étnica‌ ‌dos‌ ‌portugueses.‌ ‌Procuravam ‌nos‌ ‌novos‌ ‌territórios‌ ‌ultramarinos‌ ‌um‌ ‌refúgio.‌ ‌No‌ ‌entanto,‌ ‌em‌ ‌fins‌ ‌do‌ ‌século‌ ‌XVI,‌ ‌a‌ ‌Inquisição‌ ‌se‌ ‌fez‌ ‌presente‌ ‌também‌ ‌na‌ ‌América‌ ‌portuguesa,‌ através das visitas de inquisidores do Tribunal do Santo Ofício português, ‌perseguindo‌ ‌e‌ ‌processando‌ ‌cristãos-novos‌ ‌por‌ ‌quaisquer‌ ‌condutas‌ ‌que‌ ‌ferisse‌ ‌os‌ ‌dogmas‌ ‌da‌ ‌Igreja‌ ‌Católica,‌ ‌entre‌ ‌elas‌ ‌as‌ ‌práticas‌ ‌de‌ ‌tradições‌ ‌e‌ ‌ritos‌ ‌judaicos.‌ ‌A‌ ‌partir‌ ‌da‌ ‌primeira‌ ‌visita‌‌ ‌em‌ ‌1591,‌ na Bahia, ‌os‌ ‌cristãos-novos,‌ ‌sendo‌ ‌eles‌ ‌sinceramente‌ ‌convertidos‌ ‌ou‌ ‌não,‌ ‌enfrentaram‌ ‌um‌ ‌clima‌ ‌de‌ ‌denuncismo,‌ ‌preconceito‌ ‌e‌ ‌hostilidade.‌ ‌Pode-se‌ ‌afirmar,‌ ‌contudo,‌ ‌que‌ ‌as‌ ‌perseguições‌ ‌que‌ ‌teriam‌ ‌se‌ ‌iniciado‌ ‌no‌ ‌século‌ ‌XVIII‌ ‌enfrentaram‌ ‌muitas‌ ‌dificuldades,‌ ‌tendo‌ ‌em‌ ‌vista‌ ‌à‌ ‌ocupação‌ ‌territorial‌ ‌bastante‌ ‌espalhada‌ ‌feita‌ ‌pelos‌ ‌cristãos-novos‌ ‌na‌ ‌América‌ ‌portuguesa,‌ ‌levando‌ ‌a‌ ‌um‌ ‌número‌ ‌reduzido‌ ‌de‌ ‌prisões.‌ ‌Anita‌ ‌Novinsky‌ ‌(1972)‌ ‌também‌ ‌sustenta‌ ‌a‌ ‌ideia‌ ‌de‌ ‌que‌ ‌o‌ ‌interesse‌ ‌econômico‌ ‌da‌ ‌metrópole,‌ ‌ou‌ ‌seja,‌ ‌o‌ ‌peso‌ ‌das‌ ‌atividades‌ ‌financeiras‌ ‌desenvolvidas‌ ‌pelos‌ ‌cristãos-novos‌ ‌e‌ ‌sua‌ ‌importância‌ ‌na‌ ‌ocupação‌ ‌do‌ ‌território,‌ ‌contribuiu‌ ‌para‌ ‌as‌ ‌poucas‌ ‌detenções.‌ ‌Os‌ ‌judeus‌ ‌viveriam‌ ‌um‌ ‌período‌ ‌de‌ ‌relativa‌ ‌liberdade‌ ‌religiosa‌ ‌durante‌ ‌o‌ ‌período‌ ‌de‌ ‌ocupação‌ ‌holandesa‌ ‌no‌ nordeste brasileiro ‌(1630-1654).‌ ‌Algumas‌ ‌famílias‌ ‌de‌ ‌origem‌ ‌lusa,‌ ‌residentes‌ ‌nos‌ ‌Países‌ ‌Baixos,‌ ‌migraram‌ ‌para‌ ‌o‌ ‌nordeste,‌ ‌especialmente‌ ‌para‌ ‌‌Pernambuco‌,‌ ‌desfrutando‌ ‌da‌ ‌liberdade‌ ‌concedida‌ ‌então,‌ ‌sobretudo‌ ‌no‌ ‌período‌ ‌de‌ ‌Maurício‌ ‌de‌ ‌Nassau.‌ ‌Com‌ ‌a‌ ‌expulsão‌ ‌dos‌ ‌holandeses,‌ ‌muitos‌ ‌judeus‌ regressaram‌ ‌à‌ ‌Holanda,‌ ‌outros‌ ‌ajudaram‌ ‌na‌ ‌fundação‌ ‌de‌ ‌Nova‌ ‌Amsterdam,‌ ‌atual‌ ‌cidade‌ ‌de‌ ‌Nova‌ ‌Iorque.‌ ‌A‌ ‌diáspora‌ ‌judaica‌ ‌chegou‌ ‌ao‌ ‌fim‌ ‌em‌ ‌1948,‌ ‌com‌ ‌a‌ ‌fundação‌ ‌do‌ ‌Estado‌ ‌de‌ ‌Israel‌ ‌em‌ ‌sua‌ ‌região‌ ‌de‌ ‌origem,‌ ‌onde‌ ‌havia‌ ‌se‌ ‌mantido,‌ ‌ao‌ ‌longo‌ ‌do‌ ‌tempo,‌ ‌uma‌ ‌expressiva‌ ‌presença‌ ‌judaica.‌ ‌Ainda‌ ‌hoje,‌ ‌o‌ ‌povo‌ ‌judeu‌ ‌mantém‌ ‌a‌ ‌sua‌ ‌unidade‌ ‌através‌ ‌das‌ ‌histórias,‌ ‌tradições‌ ‌e‌ ‌cultos‌ ‌religiosos,‌ ‌independentemente‌ ‌do‌ ‌idioma‌ ‌ou‌ ‌da‌ ‌nacionalidade‌ ‌de‌ ‌cada‌ ‌indivíduo.‌ ‌

[11] CASTELA: região localizada no centro da Península Ibérica. Incorporada ao Reino de Navarra, teve seu território ampliado com a anexação de Leão, das Astúrias e da Galícia, sendo definitivamente reunida ao Reino de Leão em 1230. O casamento de Isabel de Castela com Fernando II, então herdeiro do trono de Aragão, em 1469, permitiu a união dos três reinos (Castela, Leão e Aragão) em 1479, facilitando a unidade da Espanha. Esta situação, fortalecida com a queda do reino mouro de Granada (1492), favoreceu as campanhas marítimas da Espanha durante os grandes descobrimentos do século XV. Os súditos da Coroa espanhola são conhecidos como castelhanos, em alusão à região. Os castelhanos disputaram, ao longo do período colonial, as fronteiras da América com Portugal, o que resultou na assinatura de vários tratados entre as duas coroas, principalmente com relação aos limites territoriais na região do rio da Prata.

[12] SEBASTIÃO, D. (1544-1578): décimo sexto rei de Portugal, era filho do príncipe d. João e de d. Joana de Áustria. Seu nascimento foi festejado pela Coroa que temia não conseguir um sucessor para o trono, recebendo o príncipe, por este motivo, o cognome de O desejado. Substituiu seu avô, d. João III, assumindo o trono português em 1568. De saúde precária, d. Sebastião teve uma forte ligação com os jesuítas, mostrando, desde cedo, grande interesse pela guerra e pela religião. Promoveu expedições à África, desaparecendo durante a batalha de Alcácer Quibir contra os mouros, em 1578. A partir de seu desaparecimento, nasceu a lenda conhecida por sebastianismo, em função do não aparecimento de seu corpo e da crença dos portugueses de que o rei não teria morrido e retornaria. Note-se que o sebastianismo, isto é, a ideia do advento de um rei libertador, não se limitou à fé no regresso de d. Sebastião, envolvendo, também, um conjunto de temas messiânicos sucessivamente reelaborados em contextos de crise e de indefinição política em Portugal. Formulado pela primeira vez nas Trovas, do sapateiro Gonçalo Anes (o Bandarra), em meados do século XVI, o mito de um rei salvador reapareceu durante o período filipino, sendo em vários momentos encarnado por figuras que se fizeram passar por d. Sebastião. Após a Restauração (1640), o padre Antônio Vieira continuou a divulgar os textos do Bandarra e ampliou esta profecia com a ideia de um Quinto Império português (elaboração messiânica que reservava para a Coroa lusa, sob o comando de d. João IV, o destino de ser a continuadora dos quatro grandes impérios da Antiguidade), associando temas históricos e bíblicos. Depois de d. João IV, o ideário criado em torno de d. Sebastião foi sucessivamente identificado com d. Afonso VI, d. Pedro II e d. João V, reaparecendo, ainda, no contexto das invasões francesas e no miguelismo. Para o povo, o sebastianismo tornou-se a expressão de um desejo persistente de libertação da miséria e opressão quotidianas.

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