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Uma histórica lexical da Ibero-América entre os séculos XVI e XVIII

Publicado: Sábado, 19 de Setembro de 2015, 20h10 | Última atualização em Terça, 22 de Mai de 2018, 13h56
 
 
 
 
 
Em livro, historiador da UFMG mapeia vocabulário das mestiçagens na Ibero-América
 
No tempo da colonização das Américas, as relações entre africanos, europeus e indígenas deram origem a um sem-número de seres e culturas mescladas. Em Dar nome ao novo: uma histórica lexical da Ibero-América entre os séculos XVI e XVIII, livro publicado pela Editora Autêntica, o professor Eduardo França Paiva, do Departamento de História da Fafich, reuniu termos e expressões que passaram a ser empregados nas Américas portuguesa e espanhola para identificar, distinguir e hierarquizar os descendentes das dinâmicas de mestiçagens biológicas e culturais.
 
França Paiva mapeou mais de 300 “qualidades” (termo utilizado na época para designar os tipos humanos, como índio, crioulo, mameluco, mestiço, pardo e mulato, e outras categorizações sociais – nação, raça, casta). “Condições jurídicas, por sua vez, podiam ser três: livre, escravo e forro”, lembra o professor. “Cabe demarcar que, na sociedade da época, o princípio básico era o da desigualdade. É a partir dessa dimensão que tal léxico vai se constituir com o intuito de identificar, definir, classificar e hierarquizar os tipos individuais e grupos sociais”, informa.
 
Em sua pesquisa, o historiador explorou vasta documentação produzida na época, como crônicas e relatos, e antigos dicionários e léxicos. Além das transcrições documentais já publicadas, ele recorreu a manuscritos garimpados em arquivos do Brasil e do exterior, a fim de identificar com profundidade as formas como o nosso passado escravista e mestiço foi designado e compreendido pelos agentes históricos.
 
O exame dessa documentação levou França Paiva a uma constatação: a história desse léxico não foi construída apenas com base na opressão e no conflito entre grupos sociais, mas também por meio de acordos, conveniências e negociações. “Não era um vocabulário usado apenas de cima para baixo”, afirma o professor.
 
Americanização
“Mestizo”, ou “mestiço”, é um termo que surge na América espanhola e tipifica a descendência da relação entre o conquistador espanhol e a mulher índia. “Ele já existia na Europa e vai ser empregado na América desde os primeiros anos depois da chegada dos espanhóis. É um dos muitos exemplos de termos que foram ‘americanizados’”, diz o historiador.
 
Embora o termo “mestiço” também existisse no português de Portugal, explica o professor, a tipificação mais usada para designar a descendência da relação entre os conquistadores lusitanos e as índias é “mameluco” – isso possivelmente após os primeiros 50 anos de presença de portugueses na América, período em que houve uso concomitante dos termos. “Curiosamente, ‘mameluco’ é um termo árabe, que talvez tenha vindo para cá por meio dos jesuítas, a partir de 1.549”, conjectura. França Paiva lembra que, em árabe, “mameluco” significa algo como “escravo”. Nesse sentido, sugere ele, cabe pensar na tipificação dessa qualidade como um recurso para considerar tais pessoas destinadas a servir como escravos.
 
Livro: Dar nome ao novo: Uma histórica lexical da Ibero-América entre os séculos XVI e XVIII (as dinâmicas de mestiçagens e o mundo do trabalho) 
Autor: Eduardo França Paiva
Editora: Autêntica
 
Fonte: Ewerton Martins Ribeiro/Boletim 1908
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