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Indumentária do conselheiro Elias Antônio Lopes

Escrito por Super User | Publicado: Quinta, 12 de Janeiro de 2017, 16h51 | Última atualização em Segunda, 04 de Janeiro de 2021, 05h28

Relação das roupas existentes na casa do falecido conselheiro Elias Antônio Lopes, contendo, entre outras vestimentas, casacas de pano azul ou verde, chapéus finos armados agaloados com plumas, vestidos de cetim, calças de riscadinho ou de ganga, camisolas de chita ou riscado, ceroulas de pano de linho, meias de algodão, capas de sarja de seda, robissão de cor escarlate, luvas de algodão, coletes de seda ou de casimira, camisas de morim, fardas de pano azul e um manto de estamenha, tecido grosseiro de lã, da Ordem de Cristo.

Conjunto documental: Inventário dos bens do conselheiro Elias Antônio Lopes
Notação: códice 789
Datas-limite: 1815-1815
Título do fundo ou coleção: Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação
Código do fundo ou coleção: 7X
Argumento de pesquisa: habitação, vestuário
Data do documento: 10 de novembro de 1815
Local: Rio de Janeiro
Folha(s): 8v a 19

BENS MÓVEIS E VIVENTES
PEÇAS DE OURO, PRATA E JÓIAS

[...]

Uma bengala de abada[1] com castão[2] de ouro esmaltado...................32#000
Um par de fivelas de sapato, de ouro com dezessete oitavas...................23#800
Um par de fivelas de calção também de ouro com quatro oitavas...................5#600
[...]
Três pares de esporas pesando três marcos e catorze oitavas...................20#600
Três pares de fivelas de sapato
Duas fivelas de cós de calção pesando tudo um marco e cinquenta e cinco e meia oitavas
Uma dita de liga de dito...................11#950
[...]
Uns óculos...................2#000
[...]
Um relógio de caixas de ouro autor Spencer & Kerkins, Londres n. 16681 com sua caixa de tartaruga e cadeias de ouro...................25#600

ROUPA

Uma farda, e calção de pano escarlate com vestia de pano azul tudo bordado a fio de ouro e prata do primeiro uniforme...................60#000
Uma dita como acima do segundo uniforme...................30#000
Uma casaca de pano azul com gola e canhões de pano escarlate bordado a fio de ouro...................4#800
Dois chapéus finos de pasta agaloadas e com plumas...................12#000
Um vestido e calção de seda azul com vestia de cetim branco bordada com seu caraxa [sic] ...................9#000
Um vestia[3] de cetim branco de matiz...................1#600
Um vestido e vestia de sarja de seda preta e calção de meia de seda preto...................4#000
Um vestido e vestia de gorgorão[4] preto já velho[5]...................#800
Uma casaca de pano verde garrafa...................6#000
Uma dita de dito preto...................4#800
Um vestido vestia e calção de pano preto já velho...................2#400
Um robissão[6] de pano cor de vinho velho...................480
Um dito de riscadinho azul em folha[7]...................2#400
Duas jaquetas e calças de dito novas...................3#200
Duas calças de riscadinho largas novas...................1#280
Uma jaqueta de riscadinho e duas calças de ganga[8] amarela tudo velho...................#900
Três calções pretos de diferentes fazendas velhos...................#960
Dois coletes de seda preta velhos...................#600
Dezessete ditos brancos de diferentes fazendas...................6#800
Três camisolas de riscado azul...................1#500
Uma camisola de tafetá alvadia...................#800
Dois balandraus[9] de nobreza roxa...................9#600
Uma capa de sarja de seda preta e um chapéu de Corte...................4#800
Uma dita de sarja de seda preta já velha e duas bolsas de seda...................2#000
Uma dita de lila[10] preta...................3#200
[...]
Seis robissões de baetão[11] escarlate em folha...................12#000
[...]
Três ceroulas[12] de pano de linho...................#720
Vinte e três camisas de morim[13] em folha...................13#800
Trinta e seis ditas de dito ordinárias...................18#000
Quatro ditas de diferentes fazendas já usadas...................2#000
Seis ditas de dito rotas...................1#200
Treze pescocinhos[14] e quatro bacalhaus[15]...................1#700
Doze pares de meias de linha e algodão...................2#400
Quatro ditos de seda branca e pérola...................4#000
Dois ditos de dita preta velhos...................#600
[...]
Um par de luvas de algodão novas...................#160
[...]
Seis lenços quadrados e uma cinta branca...................#560
[...]
Um chapéu fino armado velho...................#160
[...]
Cinco pares de sapatos e um de botas[16] velho...................1#200

 

[1] Termo que pode designar o rinoceronte, sua fêmea, ou apenas o seu chifre, na Índia ou na África, conforme descrições datadas do século XVI, de que é exemplo o manuscrito Um sumário dos Reis de Portugal citado por Palmira Fontes da Costa (Filosofia e História da Biologia, v. 1, p. 247-269, 2006). Tal qual o marfim extraído dos elefantes, a abada era empregada para a confecção de diversos objetos de ornamentação e constituiu um dos itens da economia das áreas de colonização portuguesa como Moçambique. Foi muito utilizada na confecção de castões de bengalas, peça indispensável da indumentária masculina das camadas mais altas da sociedade no século XIX.

[2] Acabamento, habitualmente em metal, osso ou marfim, usado no topo de bengalas.

[3] Espécie de casaca, jaqueta ou longuíssimo colete que formava dois longos bicos sobre as coxas, usado pelos homens, principalmente no século XVIII, em locais públicos. No período colonial, até a transferência da corte para o Rio de Janeiro, os habitantes da cidade usavam as roupas no espaço público para esconder as formas, padrão distante do usado na Europa. A partir do período joanino, os hábitos mudaram, tendo a moda francesa se tornado referência para o vestuário.

[4] Tecido encorpado de seda, de algodão ou de lã, com relevos compostos por finos cordões que formam uma trama semelhante a uma trança.

[5] Termo muito utilizado nas descrições dos bens dos inventariados, demonstrando que, devido aos altos preços dos produtos manufaturados e à pequena circulação monetária, as roupas e tecidos eram utilizados por muito tempo, até ficarem gastos. E, mesmo velhos e gastos, eram arroladas nos inventários como um bem, ainda que mais barato, mas de valor. Durante o período colonial no Brasil, a produção manufatureira era incipiente, já que a prática mercantilista não permitia a concorrência da colônia com a metrópole, a exemplo do alvará de 1785, pelo qual a rainha d. Maria I proibira o estabelecimento de manufaturas no Brasil. As importações se faziam principalmente de produtos ingleses, cuja produção industrial estava em franco desenvolvimento, em especial, a indústria têxtil.

[6] Espécie de sobrecasaca comprida que compunha o vestuário masculino do século XIX.

[7] Designa que o objeto é novo, recém fabricado, ou que se encontra em bom estado. No Brasil colonial, devido os preços altos da maior parte dos tecidos e roupas, era raro existirem peças novas arroladas nos inventários, aquelas tinham seu valor condicionado ao estado: quanto mais nova a peça, mais dispendiosa se tornava.

[8] Tecido resistente de algodão, em geral na cor azul ou amarelo, comumente empregado na produção de vestidos para as negras escravas. Na indumentária masculina, era usado para confecção de coletes, calções e macaquinhos.

[9] Veste ampla, usada por certas irmandades em solenidades e cerimônias religiosas.

[10] De origem francesa, da cidade de Lille, é um tecido antigo de lã, fino e lustroso. (BRUNO, Ernani Silva. Equipamentos, usos e costumes da casa brasileira: Objetos. São Paulo: Museu da Casa Brasileira, 2001)

[11] Tecido de lã ou algodão, grosseiro de várias espessuras. Era muito utilizado nas vestimentas das escravas, principalmente o baetão preto, para a confecção de saias. O tecido também era empregado na fabricação de colchas, cobertores, cobertas e outras peças do vestuário, como capas e casacos.

[12] Peça do vestuário masculino, semelhante a uma bermuda ou um macacão sob as vestimentas. No Brasil colonial, era comum que os homens se vestissem apenas com as ceroulas no espaço doméstico.

[13] Tecido de algodão rústico, com tramas simples e acabamento engomado. O morim é a base para a chita, que se caracteriza pela estampa colorida de flores. Por ser de baixa qualidade, era usado frequentemente na fabricação de roupas para as escravas no período colonial.

[14] Gola retirável, normalmente de cor branca, que poderia ser adaptada à camisa. Era habitualmente usada por religiosos.

[15] Colarinhos largos e engomados que caem sobre o peito.

[16] Após a transferência da Corte portuguesa, a importação e a comercialização de calçados, produzidos, em geral, em cetim e veludo, ficaram a cargo dos ingleses. Fazer uso dessa peça de indumentária era um atributo de distinção social, demonstrando que o indivíduo integrava uma camada privilegiada da sociedade. Em contrapartida, os escravos geralmente andavam descalços e, tão logo alcançavam sua liberdade, adquiriam um par de sapatos exibindo a mudança de posição social. As botas trazidas pelos portugueses, os borzeguins, foram adotadas na colônia, porém aquelas de uso militar foram as mais usadas, com cano alto, reto ou virado, chamadas botifarras. Seu uso se restringia aos mais ricos. No sul da colônia, em especial durante as guerras luso-castelhanas, desde o século XVI, as botas de garrão de potro, feita com as patas cortadas do animal, eram utilizadas por índios, gaúchos e tropeiros. Os imigrantes alemães, em meados do século XIX, e, posteriormente, outros europeus, como ingleses e italianos, contribuíram para o aperfeiçoamento da técnica de fabricação dos calçados no Brasil.

 

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